Que líderes mundiais contestaram vitória de Maduro e quem reconheceu


Foto: AP Photo/Fernando Vergara  - Foto: Foto: AP Photo/Fernando Vergara O presidente Nicolás Maduro se dirige a apoiadores reunidos em frente ao palácio presidencial de Miraflores depois que as autoridades eleitorais o declararam vencedor das eleições presidenciais na Venezuela
29/07/2024 às 09:08
Redação

Venezuela

O resultado da eleição da Venezuela é alvo de desconfiança de especialistas e autoridades internacionais depois de o presidente Nicolás Maduro, no cargo há 11 anos, ter sido declarado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O órgão responsável pelas eleições no país é presidido por um aliado de Maduro. Se o sucessor de Hugo Chávez perdesse, a oposição chegaria ao poder depois de 25 anos.

De acordo CNE, até a madrugada desta segunda-feira, com 80% das cédulas apuradas, Nicolás Maduro foi reeleito com 51,2% dos votos, enquanto seu opositor, Edmundo González, recebeu 44%. A oposição contesta os números e diz que o González venceu Maduro com 70% dos votos.

Diante desse cenário, diversas autoridades internacionais pediram transparência na apuração. Na contramão, presidentes e autoridades de países como Rússia, China, Honduras, Cuba, Bolívia e Nicarágua, parabenizaram Maduro pela vitória.

Quem contestou resultado

  • Estados Unidos - secretário de Estado, Antony Blinken
  • União Europeia - vice-presidente, Josep Borrell Fontelle
  • Reino Unido - Ministério das Relações Exteriores
  • Chile - presidente Gabriel Boric
  • Alemanha - Ministério das Relações Exteriores
  • Argentina - presidente Javier Milei
  • Uruguai - presidente Luis Lacalle Pou
  • Espanha - ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares
  • Itália - vice-primeiro-ministro, Antonio Tajani
  • Equador - presidente Daniel Noboa
  • Peru - ministro das Relações Exteriores, Javier Gonzalez-Olaecha
  • Colômbia - ministro das Relações Exteriores, Luis Gilberto Murillo
  • Guatemala - presidente Bernardo Arevalo
  • Panamá - presidente José Raúl Mulino
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que o país tem "sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano".

Josep Borrell Fontelles, vice-presidente da Comissão da União Europeia, afirmou que, depois de o povo da Venezuela votar sobre o futuro do país de "maneira pacífica e massiva", "sua vontade deve ser respeitada".

"É vital assegurar a total transparência do processo eleitoral, incluindo a contagem detalhada dos votos e o acesso às atas de votação das mesas eleitorais", disse Fontelles.

O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido afirmou em nota que o país está preocupado com as alegações de irregularidades nos resultados das eleições. "Pedimos a publicação rápida e transparente dos resultados completos e detalhados para garantir que o resultado reflita os votos do povo venezuelano", postou na rede social X.

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O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, disse que o país se junta à rejeição generalizada em relação ao resultado eleitoral. "Esperávamos que a vontade popular fosse respeitada, e essa situação foi desconsiderada. Agiremos individual e coletivamente em favor da democracia venezuelana. Anunciaremos as medidas que tomaremos de acordo com as regras interamericanas nas próximas horas", afirmou Mulino.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, diz que é "difícil de acreditar" na vitória de Maduro e que o Chile não reconhecerá nenhum resultado "que não seja verificável".

"A comunidade internacional e sobretudo o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigem total transparência das ações e do processo, e os auditores internacionais não se comprometem com o governo na conta da veracidade dos resultados", escreveu Boric.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disse em nota que "os resultados eleitorais anunciados não são suficientes para dissipar as dúvidas sobre a contagem dos votos" e pediu a publicação dos resultados detalhados de todas as seções eleitorais e o acesso a todos os documentos de votação e eleitorais para a oposição e os observadores internacionais.

O presidente da Argentina, Javier Milei, disse, antes dos resultados das eleições, que a Argentina não vai reconhecer "outra fraude" e que espera que as Forças Armadas, desta vez, "defendam a democracia e a vontade popular".

"Os venezuelanos escolheram acabar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados anunciam uma vitória gigante da oposição e o mundo aguarda que reconheça a derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte", escreveu Milei.

Maduro respondeu, chamando Milei de "bicho covarde", "traidor da pátria" e "fascista e nazista" em seu discurso após os resultados.

O presidente do Uruguai, Luis Lacalle, também criticou os resultados: "Não é assim! Era um segredo aberto. Eles iam 'vencer' independentemente dos resultados reais. O processo até o dia da eleição e a contagem estava claramente com falhas. Não se pode reconhecer um triunfo se você não pode confiar nos formulários e mecanismos usados para alcançá-lo."

Ministro do Exterior da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que a vontade democrática dos venezuelanos deve ser respeitada "com a apresentação das atas de todas as mesas eleitorais para garantir resultados plenamente verificáveis".

"Pedimos que se mantenham a calma e civismo com os quais transcorreu a jornada eleitoral", disse Albares.

"Tenho muitas dúvidas sobre o desenvolvimento regular das eleições na Venezuela", afirmou o vice-primeiro-ministro da Itália, Antonio Tajani, que exigiu "resultados que possam ser verificados".

O Equador também rejeitou a falta de transparência nas eleições, que, segundo comunicado do governo, deslegitima e compromete o resultado do pleito.

"Em toda a região, há políticos que tentam se agarrar ao poder e que pretendem tirar a paz dos nossos cidadãos. É isso que enfrentamos, esse é o perigo da ditadura, e hoje somos testemunhas de como mais um deles tenta tirar a esperança de milhões de venezuelanos", disse o presidente equatoriano Daniel Noboa.

Outro país da América Latina, o Peru, também garante que não aceitará "a violação da vontade popular do povo venezuelano", segundo o presidente Javier Gonzalez-Olaecha. "Condeno em todas as extremidades a soma de irregularidades com a intenção de fraude cometida pelo governo venezuelano", disse.

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu a contagem total dos votos e uma auditoria independente.

"Após manter contato permanente com todos os atores políticos envolvidos nas eleições presidenciais, consideramos essencial que as vozes de todos os setores sejam ouvidas. É importante esclarecer quaisquer dúvidas sobre os resultados. Pedimos que a contagem total dos votos, sua verificação e uma auditoria independente sejam realizadas o mais rápido possível", disse Murillo.

Quem parabenizou Maduro

  • Rússia - presidente Vladimir Putin;
  • China - Ministério das Relações Exteriores;
  • Honduras - presidente Xiomara Castro;
  • Cuba - presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez;
  • Bolívia - presidente Luis Arce;
  • Nicarágua - presidente Daniel Ortega.

Segundo o Kremlin, Vladimir Putin enviou uma mensagem a Maduro nesta segunda e o parabenizou pela vitória. "Estamos desenvolvendo relações em todas as áreas, incluindo áreas sensíveis", disse comunicado do Kremlin.

A China, que mantém vínculos próximos com a Venezuela, felicitou Nicolás Maduro por sua reeleição e afirmou que está "disposta a enriquecer a associação estratégica" com o país latino-americano, informou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

"Nossa especial felicitação e saudação Democrática, Socialista e Revolucionária ao Presidente Maduro e ao valente povo da Venezuela pelo seu triunfo incontestável, que reafirma sua soberania e o legado histórico do Comandante Hugo Chávez", disse Xiomara Castro, presidente de Honduras.

"Felicitamos o povo venezuelano e o presidente Maduro pela vitória eleitoral deste histórico 28 de julho. Grande maneira de lembrar o Comandante Hugo Chávez. Acompanhamos de perto esta festa democrática e saudamos o respeito à vontade do povo venezuelano nas urnas", afirmou Luis Arce, presidente da Bolívia.

"Hoje triunfaram a dignidade e o valor do povo venezuelano sobre pressões e manipulações. Transmito ao irmão presidente Maduro nossas afetuosas felicitações por esta vitória histórica e o compromisso de Cuba de estar junto à Revolução Bolivariana e Chavista", disse Miguel Díaz-Canel Bermúdez, presidente de Cuba.

"Em plena fraternidade revolucionária e evolucionária, a Nicarágua bendita e sempre livre, nosso abraço de sempre, saudando a grande vitória que esse povo heroico entrega ao Comandante Eterno, no seu aniversário. A Nicolás, à juventude e a todas as famílias venezuelanas, nossa homenagem e saudação, em honra, glória e por mais vitórias", disse o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em nota do governo.

Oposição contesta órgão eleitoral

Segundo o CNE, liderado por um aliado do presidente venezuelano, Maduro teve 51,2% dos votos e o principal candidato da oposição, Edmundo González, 44%. O resultado indica uma diferença de 704 mil votos entre os dois candidatos – como os dados finais ainda não foram divulgados, esses números devem mudar.

Minutos após a divulgação, Maduro disse em discurso a apoiadores em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, que sua reeleição era o triunfo da paz e da estabilidade.

"O povo disse paz, tranquilidade fascismo na Venezuela, na terra de Bolívar e Chávez, não passará", disse Maduro.

Com o resultado, Maduro – um ex-motorista de ônibus de 61 anos que se tornou chanceler da Venezuela – deve permanecer mais seis anos no poder em Caracas, chegando a 17 anos no comando do país. Hugo Chávez governou a Venzuela por 14 anos até sua morte, em 2013.

A oposição, que tem denunciado irregularidades, contestou os números divulgados pelo CNE, e disse que, em suas contas, Edmundo González teve 70% dos votos e Maduro, 30%. Resultados de duas pesquisas de boca de urna divulgadas pela agência Reuters indicavam vitória de Gonzáles por larga vantagem.

"Queremos dizer ao mundo que a Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo González", disse Maria Corina Machado, a líder da oposição que foi impedida pelo regime de Maduro de disputar a eleição.

Em breve discurso, González – que assumiu a candidatura após o impedimento de Maria Corina – disse que "não descansaremos até que a vontade popular seja respeitada".

De acordo com o CNE, 59% dos eleitores participaram da votação – 13 pontos acima dos 46% registrados em 2018, quando Maduro conquistou seu segundo mandato em um pleito marcado por denúncias de fraude, boicote da oposição e alta abstenção.

Oposição pede contagem paralela

O anúncio do CNE ocorreu após horas de indefinição (em 2018, os resultados foram divulgados no mesmo dia da eleição). A oposição alegou que o governo estava impedindo o acesso às atas de votação e pediu que a população faça vigília em família nos locais de votação para checar os resultados.

Em sua primeira entrevista coletiva para divulgar o primeiro boletim com resultados parciais das eleições, o CNE atribuiu a demora a uma "agressão ao sistema de transmissão de dados que atrasou de maneira adversa a transmissão dos resultados dessas eleições presidenciais".

"Nas próximas horas estarão disponíveis na página do Conselho Nacional Eleitoral os resultados mesa por mesa, tal como historicamente temos feito graças ao sistema automatizado de votação. Igualmente, se entregará às organizações com fins políticos os resultados em um CD, conforme a lei", afirmou o CNE.

Repercussão

O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que o país "tem sérias preocupações de que os resultados não refletem a vontade ou os votos do povo venezuelano".

O presidente do Chile, Gabriel Boric, disse que os resultados que o regime chavista divulga são "difíceis de crer".

"Do Chile, não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável", disse o chefe do Executivo chileno.

O chanceler peruano, Javier González-Olaechea, condenou "ao extremo a soma de todas as irregularidades" do processo eleitoral.

Antes da divulgação dos resultados, outras lideranças internacionais haviam cobrado transparência e respeito aos resultados.

Votação teve longas filas

Apesar do clima de tensão – o pleito de 2024 foi considerado o mais desafiador para o chavismo em seus 25 anos – a votação ocorreu sem grandes episódios de violência. Em um ponto de votação em Caracas, no entanto, houve confusão com empurrões e tapa na fila de eleitores antes da abertura dos portões.

"Eles não nos deixam entrar, por quê? Queremos votar, queremos ser uma nação venezuelana livre e não chavista nem madurista, para que estejamos todos juntos", disse o eleitor Oscar Marquina, segundo a Reuters.

Houve longas filas em vários locais de votação. O horário oficial de votação foi das 7h às 19h, mas eleitores que já estivessem na fila puderam votar mesmo após a hora programada.

Maduro votou logo no começo do dia, e disse que reconheceria os resultados oficiais. González votou pouco depois das 14h, e afirmou acreditar que as Forças Armadas respeitariam as votações.

"Reconheço e reconhecerei o árbitro eleitoral, os boletins oficiais e garantirei que sejam respeitados", disse Maduro a repórteres, após deixar o local de votação.

Por sua vez, ao deixar o local de votação, González disse acreditar que as Forças Armadas venezuelanas respeitarão o resultado.

Voluntários dos partidos de oposição e pró-governo enfrentam a segurança exigindo entrar no centro eleitoral Andrés Bello, em Caracas, Venezuela, 28 de julho de 2024 — Foto: Reuters/Leonardo Fernandez Viloria
Voluntários dos partidos de oposição e pró-governo enfrentam a segurança exigindo entrar no centro eleitoral Andrés Bello, em Caracas, Venezuela, 28 de julho de 2024 — Foto: Reuters/Leonardo Fernandez Viloria

Eleição na Venezuela — Foto: Juan Silva/g1
Eleição na Venezuela — Foto: Juan Silva/g1

Fonte:g1

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