Ascensão de Michelle Bolsonaro expõe tensões internas e redesenha forças no PL
Redação
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A intervenção pública de Michelle Bolsonaro (PL) contra a possibilidade de uma aliança com Ciro Gomes no Ceará não apenas agradou a grande parte do eleitorado bolsonarista, como também consolidou ainda mais sua posição como uma das vozes mais influentes dentro do Partido Liberal.
Ao mesmo tempo, sua postura firme ampliou a resistência de alguns setores da legenda, que veem com preocupação o avanço de seu protagonismo, mas evitam confrontá-la diretamente diante de sua popularidade entre militantes, mulheres e grupos evangélicos.
Apesar do desconforto interno, dirigentes admitem que Michelle se tornou um ativo político valioso. Avaliam que enfrentá-la seria um erro estratégico, considerando sua capacidade de mobilização e de comunicação com segmentos importantes do eleitorado.
O episódio decisivo ocorreu no dia 30, durante o lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará. Na ocasião, Michelle repreendeu publicamente o deputado André Fernandes (PL), por articular uma aproximação com Ciro Gomes (PSDB). A articulação, segundo aliados, tinha respaldo do próprio Jair Bolsonaro.
A reprimenda provocou reação imediata dos filhos mais velhos do ex-presidente – Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro –, que criticaram a ex-primeira-dama nas redes sociais, classificando seu gesto como autoritário. Michelle manteve a posição e defendeu seu direito de expressar discordâncias.
Posteriormente, após visita ao pai na prisão da PF em Brasília, Flávio declarou ter pedido desculpas a Michelle. No mesmo dia, a cúpula do PL recuou e suspendeu qualquer apoio a Ciro Gomes, buscando apaziguar o desgaste.
Flávio, em entrevista, reconheceu que Michelle passou a integrar o “núcleo duro” das decisões da sigla, ao lado dele, do presidente do partido Valdemar Costa Neto e do senador Rogério Marinho. Avaliações internas apontam que o eleitorado majoritariamente apoiou a postura da ex-primeira-dama, o que constrangeu ainda mais os críticos do clã Bolsonaro.
Poucos dias depois, Flávio anunciou que fora escolhido pelo pai como pré-candidato à Presidência. Aliados interpretaram o gesto como uma tentativa de Jair Bolsonaro de reafirmar seu comando político e limitar o avanço da influência de Michelle.
Mesmo assim, dentro do PL, o episódio deixou marcas. Parte da ala ideológica concorda com a crítica ao acordo com Ciro, mas desaprovou a forma pública como Michelle expôs André Fernandes. Outros dirigentes se mostraram irritados com a falta de diálogo e temem que episódios semelhantes se repitam.
A influência da ex-primeira-dama também tem colidido com arranjos regionais. No Ceará, ela defende que a vereadora Priscila Costa (PL) dispute o Senado, enquanto o acordo original previa Alcides Fernandes (PL). Em Santa Catarina, ela apoia Caroline de Toni (PL) para o Senado, contrariando o alinhamento local com Esperidião Amin (PP). No Distrito Federal, pressiona pela candidatura de Bia Kicis (PL), contrariando o projeto do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Um dirigente da legenda resumiu o clima: “Criamos um monstro”. Segundo ele, Michelle foi impulsionada como liderança, e agora, com forte apelo popular, tornou-se difícil de conter. Afirmou ainda que, hoje, seria politicamente menos custoso enfrentar Eduardo Bolsonaro nas redes do que a ex-primeira-dama.
Mesmo assim, pré-candidatos majoritários reconhecem sua importância no palanque. Dois aspirantes a governador afirmaram que, em 2026, Michelle será essencial para suas campanhas — mais até do que Bolsonaro ou Tarcísio de Freitas.
A disputa interna repercutiu até no almoço semanal dos senadores da oposição, onde deputados do Novo brincaram dizendo que, caso o PL não quisesse Michelle, eles a acolheriam sem hesitar.
Nas eleições municipais de 2024, ela já havia se destacado, viajando pelo país e impulsionando candidaturas. Após a prisão de Bolsonaro, cresceram especulações sobre seu nome como possível vice em uma chapa liderada por Tarcísio. A ideia, porém, não agrada ao governador e enfrenta alta resistência do centrão, que atribui a postura da ex-primeira-dama à falta de experiência política.
Ainda não se sabe se essa hipótese foi descartada após a indicação de Flávio à disputa presidencial. Para alguns aliados, manter Michelle como possibilidade na vice serviu como ferramenta de Bolsonaro para sinalizar controle sobre a direita e influenciar a composição da chapa.
Mesmo com as tensões, integrantes da direita afirmam que Bolsonaro precisa tanto da mulher quanto dos filhos no Senado para fortalecer a ofensiva contra ministros do STF e buscar anistia para envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
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