Blairo diz que sobretaxas dos EUA afetaram mais a economia americana do que a brasileira
Redação
OPINIÃO
O ex-governador de Mato Grosso e ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi afirmou que as sobretaxas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, ao longo de 2025, tiveram impacto mais severo sobre a economia norte-americana do que sobre a brasileira. Segundo ele, a recente redução das tarifas não teve como foco beneficiar o Brasil, mas aliviar a inflação que atingiu fortemente os consumidores dos EUA.
As declarações foram feitas durante o 3º Congresso Cerealista Brasileiro, no Malai Manso Resort, em Chapada dos Guimarães. Maggi, que retornou dos Estados Unidos na véspera, relatou que a alta no custo da alimentação está diretamente ligada às tarifas adicionais aplicadas a produtos brasileiros.
“A inflação lá pegou forte, principalmente nos alimentos, onde o Brasil é fornecedor relevante. A retirada das sobretaxas não foi para agradar o Brasil, mas para aliviar o bolso deles”, afirmou.
Impacto comercial
A crise se agravou em agosto, quando Washington elevou para 50% as tarifas de importação sobre diversos produtos brasileiros — episódio mais crítico de uma escalada iniciada em fevereiro. As medidas atingiram cerca de 35% das exportações do Brasil para os EUA, afetando setores como aço, ferro, carne e produtos industriais.
O presidente Donald Trump voltou atrás recentemente, reduzindo a tarifa sobre a carne bovina brasileira, que retornou ao patamar de 26,4%.
Maggi afirmou que, apesar do conflito comercial, Mato Grosso e o agronegócio nacional sofreram menos prejuízos do que o esperado. Para ele, o maior impacto ocorreu no mercado interno americano. “O mercado se regula. Quando os preços passam do limite, não adianta decreto. O consumidor lá estava pagando caro demais, e o governo percebeu isso”, avaliou.
Disputa política
A disputa comercial também envolveu componentes políticos. Trump chegou a justificar o tarifaço citando “motivações econômicas” e críticas ao Supremo Tribunal Federal, após aliados de Jair Bolsonaro pressionarem por uma anistia ao ex-presidente.
Na época, Eduardo Bolsonaro, que estava nos EUA, chegou a declarar que negociava punições ao Brasil caso o STF não recuasse.
Semanas depois, Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe, e Trump retomou negociações diplomáticas com o presidente Lula. A tarifa foi reduzida, e o ex-presidente americano não endossou o movimento de solidariedade defendido por bolsonaristas.
Maggi reforçou que, embora a diplomacia seja importante, a pressão econômica interna nos EUA foi determinante para o recuo parcial das tarifas.