Face invisível da violência contra a mulher, o abuso psicológico é tema de evento da ALMT


Divulgação  - Foto: Divulgação A violência psicológica foi trazida pelos debatedores como um tipo de agressão mais sutil e subjetiva, o que leva a vítima, muitas vezes, a não identificar que está sendo submetida a isso
11/09/2024 às 08:33
Redação

ALMT

Centenas de mulheres estão sendo mortas ou agredidas a cada minuto no nosso país. A violência física contra a mulher, que vai desde a agressão até o feminicídio, aumenta a cada dia em proporções alarmantes. Existe, porém, um tipo de violência que é sutil, mais subjetiva, mas não menos cruel: a violência psicológica. Complexa e perversa ela se instala lentamente comprometendo a saúde emocional e física da mulher vítima do abuso. 

Para conscientizar sobre alguns dos aspectos em que acontecem e os mecanismos mentais empenhados para a desconstrução da vítima, a Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa reuniu especialistas para falar sobre “Gaslighting! Um evento sobre violência psicológica!”.

“É preciso entender que a violência psicológica é uma das mais sutis e devastadoras agressões cometidas. Poucas mulheres entendem que estão passando por ela. Por isso a importância da gente falar sobre a violência psicológica de uma forma simples, que traga casos práticos, de como acontece”, afirmou a subprocuradora Especial da Mulher da ALMT, Francielle Brustolin. “São informações valiosas que ajudam a identificar não só se você está numa situação dessas, mas também se um parente, uma vizinha, uma amiga ou uma mulher próxima a você é vítima desse tipo de violência” , complementou. 

“A violência contra a mulher precisa ser discutida de forma sistemática porque são muitos aspectos que precisam mudar”, defendeu o deputado estadual Carlos Avallone (PSDB) que preside temporariamente a Procuradoria Especial da Mulher da ALMT. Segundo ele, “é preciso uma reeducação social principalmente dos homens que são os agressores e evitam participar das discussões para mudar”, ponderou. “As mulheres estão cada vez mais participativas e buscando informações para conhecer como a violência acontece, porque muitas vezes a falta de informação faz com que diminua a gravidade das agressões, normalizando a violência. Isso está mudando”, reforçou.

A subprocuradora Especial da Mulher da ALMT, Francielle Brustollin, defendeu a importância de se falar de forma simples e prática sobre os tipos de violência contra a mulher e como identifica-la na rotina
A subprocuradora Especial da Mulher da ALMT, Francielle Brustollin, defendeu a importância de se falar de forma simples e prática sobre os tipos de violência contra a mulher e como identifica-la na rotina
Foto: HELDER FARIA/ALMT

A violência psicológica contra a mulher ganhou espaço nos diálogos, uma vez que cada dia mais vítimas têm unido coragem para denunciar relações abusivas sendo que, uma das características desse relacionamento, é questionar a sanidade mental, a capacidade intelectual da outra pessoa. 

“A violência psicológica é uma forma de agressão mais complexa e perversa e que não ocorre isolada das outras. O abuso tem graves consequências para a mulher. Vem sempre para impor comportamentos e crenças à vítima ou oprimi-la, deixando-a frágil e com a autoestima abalada”, afirmou a especialista em neurociência e comportamento humano, Kelly Arfux. Ela abriu o evento com a palestra “A caixa de ferramentas dos narcisistas e abusadores emocionais”, onde detalhou 14 técnicas de manipulação praticadas cotidianamente como forma de fragilizar a vítima. 

Ela explicou que “o abuso do narcisista é um dos mais perversos porque ele acontece no dia a dia, de forma sistemática e difícil de perceber”, alertou. “O narcisista faz aquele abuso emocional que causa danos, mas a gente não consegue relatar como isso é feito. Quando eu abro a caixa de ferramentas do narcisista, é como se acendesse uma luz naquele quarto escuro e aí sim você começa a compreender como é que esse manipulador está cometendo abuso emocional contra você”, explicou.

Ao longo da programação foram trazidos painéis como “Relatos de violência psicológica”, com a defensora pública Rosana Leite; “Violência psicológica é crime!”, com a delegada de Cuiabá Judá Maali, e os dados de um estudo sobre violência contra a mulher feita pelo MPMT, com Gileade Pereira Souza Maia, coordenadora do Centro de Apoio Operacional sobre Estudos de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher e Gênero Feminino.

Além das palestras, houve também o lançamento do livro digital (e-book) “A Violência Doméstica Silenciosa Praticada pelo Narcisista Perverso”, do Ministério Público Estadual. 

“Dispor desse material é garantir que as mulheres tenham acesso a mais informação sobre uma violência inviabilizada que passa despercebida pela sociedade e muitas vezes pela própria mulher que é vitima”, defendeu o promotor Tiago Afonso do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher do MPMT. “A iniciativa é mais um passo para ajudar a conscientizar mais mulheres para que se enxerguem envolvidas nesses relacionamentos e encontrem caminhos para sair dessa situação”, complementou.

O promotor explicou que o material está disponível de forma simples e de fácil acesso, por meio digital no endereço: https://heyzine.com/flip-book/5de5648798.html

Dados da violência contra a mulher

Um novo levantamento sobre a violência contra a mulher no Brasil, realizado em junho deste ano, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha, mostrou que um em cada quatro brasileiros diz que conhece mulheres vítimas de violência doméstica praticada por parceiros íntimos, como namorados, maridos e ex-companheiros. 

O estudo apontou que essa parcela da população (27%) corresponde a quase 45 milhões de pessoas em todo o país, e as respostas se referem às agressões praticadas num período de 12 meses anteriores aos dados da pesquisa.

Na mesma perspectiva, os casos na Justiça de violência psicológica contra a mulher saltaram 152% entre 2022 e 2023, com uma variação de 7 mil para 19 mil processos novos registrados. É o que aponta levantamento no DataJud, o painel de estatísticas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Segundo o levantamento, houve aumento de todos os casos na Justiça em que as mulheres são vítimas de violência doméstica, violência psicológica, lesão, feminicídio e estupro. Entre 2022 e 2023, o volume total de casos novos na Justiça saltou de 666 mil para 787 mil, com um aumento de 18%.

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