Ludopatia: entenda o que é a doença de pessoas viciadas em jogos de azar
Redação
Entenda
Vender móveis para conseguir dinheiro para apostar. Perder as economias da vida acreditando que ia conseguir virar o jogo. Não conseguir parar até perder tudo. O vício em jogos de azar não é frescura, mas uma doença classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS): a ludopatia.
A ludopatia é uma condição médica caracterizada pelo desejo incontrolável de continuar jogando. A doença é reconhecida pela OMS e no Brasil tem CID: 10-Z72.6 (mania de jogo e apostas) e 10-F63.0 (jogo patológico).
Com os cassinos online e jogos de azar na palma da mão com o celular, ficou mais fácil jogar e vem crescendo o número de pessoas que contou ter começado como uma curiosidade, um passatempo, mas que em pouco tempo se tornou um pesadelo.
É o caso de Patrícia, uma cozinheira que perdeu R$ 80 mil em 2 meses. Ela recebeu um link para o jogo, abriu por curiosidade e usou para passar o tempo. Quando percebeu, tinha perdido todas as economias e estava fazendo empréstimos para jogar.
O Ministério da Fazenda deve concluir nos próximos 15 dias as regras para as plataformas de apostas (popularmente conhecida como bets) e jogos de apostas online atuarem no país. Uma das imposições é exigir que as casas identifiquem e impeçam que pessoas com comportamento de vício de joguem ou apostem.
Patrícia é cozinheira e diz que perdeu mais de R$ 80 mil em jogos de cassino online. — Foto: Arquivo Pessoal
Como a ludopatia funciona?
A ludopatia, doença do vício pelo jogo, funciona no mesmo mecanismo que a dependência de álcool ou drogas. Ela é causada pelo desenvolvimento da fissura, que é o desejo incontrolável de jogar ou apostar. Neste caso, a necessidade não é por uma substância, mas pela emoção que apostar e jogar causam no cérebro.
Esse é um processo químico que ativa o sistema de recompensa:
- O sistema de recompensa do cérebro é o circuito que processa a informação relacionada à sensação de prazer ou de satisfação. A dopamina, hormônio ligado a esse sistema, é liberada quando a pessoa aposta e isso reforça a compulsão, aumentando os níveis de excitação, reduzindo a inibição de decisões arriscadas ou uma combinação de ambos.
Pesquisas recentes mostram que a fissura dos jogadores por aposta é tão ou mais intensa do que a fissura de dependentes químicos por cocaína ou álcool, por exemplo.
A doença não é algo novo, mas vem desde à época das casas de bingo, de jogos de carta e caça-níqueis. No Brasil, por exemplo, existe desde 1993 a A Irmandade de Jogadores Anônimos, que apoia pessoas com dependência de jogo.
Quais os sinais de que jogar pode ter se tornado um problema?
Qualquer pessoa em qualquer idade pode desenvolver o vício no jogo, segundo os especialistas. Eles alertam que é preciso atenção porque, como no caso de Patrícia, a fissura é um processo e, em geral, a pessoa adoecida demora para perceber que a aposta que era corriqueira se transformou em um vício.
Veja abaixo os sinais de atenção:
- Estar preocupado com o jogo, como planejar constantemente atividades de jogo e como conseguir mais dinheiro para jogar;
- Precisando apostar quantias cada vez maiores de dinheiro para obter a mesma emoção;
- Tentando controlar, reduzir ou parar de jogar, mas sem sucesso;
- Sentir-se inquieto ou irritado quando tenta reduzir o jogo;
- Jogar para escapar de problemas ou aliviar sentimentos de desamparo, culpa, ansiedade ou depressão;
- Tentando recuperar o dinheiro perdido apostando mais;
- Mentir para familiares ou outras pessoas para esconder que joga ou que está com problemas pelo hábito de jogar;
- Arriscar ou perder relacionamentos importantes ou emprego por causa de jogo;
- Pedir ajuda financeira ou empréstimos.
Vício em aposta e em jogos online é reconhecido como doença — Foto: Reprodução
Como pedir ajuda?
Apesar de muitas pessoas com o vício acharem que podem parar sozinhas, geralmente não conseguem. Assim como em outros vícios, é preciso pedir ajuda, contar com apoio terapêutico e da família e amigos para interromper o ciclo.
Jogar de forma patológica altera o sistema de recompensa e é preciso de terapias para reverter esse processo e lidar com a ausência daquela emoção ao fazer uma aposta.
Assim como no alcoolismo, por exemplo, os tratamentos indicados são terapia individual, em grupo e até familiar.
Fonte: g1