Como falar a real pro colega de trabalho sem ser grosseiro (ou demitido): tiktokers viralizam falando 'corporativês'


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25/06/2023 às 10:47
g1

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Com certeza, você já se pegou pensando em como avisar para o colega que ele "é muito lerdo com as coisas" ou se viu sem paciência querendo gritar “eu já falei isso mais de dez vezes”.

Essas situações comuns no ambiente de trabalho, onde a convivência é intensa, têm feito viralizar vídeos bem-humorados de criadores brasileiros e gringos. Eles se propõem a "traduzir" xingamentos e saias-justas para o "corporativês", ou seja, com aquelas palavras muito usadas no dia a dia das empresas e que não ofendem ninguém.

Nesta semana, o vídeo "Como insultar de maneira corporativa”, da publicitária Fernanda Mattos, foi visto mais de 5 milhões de vezes no TikTok e gerou mais de 6 mil comentários e 875 mil curtidas até a tarde desta quarta-feira (21).

Um dos exemplos que aparecem no post é quando um colega esquecido ou distraído pergunta a mesma coisa várias vezes. Em vez de chamá-lo de lerdo, Fernanda sugere dizer: “Acho que estamos tendo um ruído de comunicação porque essa informação já foi passada previamente”.

Fernanda Mattos 'traduz' insultos para a linguagem corporativa — Foto: Reprodução/TikTok

Fernanda Mattos 'traduz' insultos para a linguagem corporativa — Foto: Reprodução/TikTok

Entre as expoentes dessa categoria no estrangeiro está Laura Whealey, que se intitula como "sua amiga do trabalho virtual". Seus vídeos exploram todo o tipo de situação dentro do ambiente de trabalho, onde ora ela adota a postura de chefe ora a de funcionários e colegas.

Com mais de 3 milhões de seguidores, a canadense abandonou o emprego na área de tecnologia para se dedicar ao próprio negócio, além de dar consultoria a organizações sobre como melhorar sua cultura. Em um de seus conteúdos mais recentes, que teve mais de 5 milhões de visualizações, Laura protagoniza duas colegas de trabalho discutindo sobre a polêmica de trabalhar ou não durante o fim de semana.

O canal de Fernanda surgiu em 2021, sob o pretexto de retratar os “perrengues” do home office.

 

“Nesse momento percebi que tínhamos muitos temas em comum e pensei ‘eu tenho que dividir isso com mais pessoas’, sempre querendo levar bom humor e reflexões do mundo corporativo”, lembra.

 

Atualmente, ela trabalha de maneira híbrida e vai duas vezes por semana ao escritório. A rotina, as dicas de colegas e outros perfis de criadores de conteúdo são fontes de inspiração para a tiktoker de 28 anos. No Instagram, ela acumula 46 mil seguidores e também compartilha alguns vídeos que costuma postar em outras plataformas.

“Sempre trabalhei em empresas grandes e fui aprendendo ao longo do tempo a maneira como as pessoas falavam quando queriam passar uma mensagem mais incisiva”, disse.

A engenheira de produtos e maquiadora Carla Ramalho Panicio também divide vídeos com seus mais de 225 mil seguidores sobre como se comunicar sem ser reativo ou grosseiro.

No quadro “Tecla SAP Corporativa”, ela responde às frases "sinceronas" enviadas nas caixinhas abertas no Instagram e acaba compartilhando os conteúdos também no TikTok.

Em um dos vídeos sobre o tema, que conta com mais de 1 milhão de visualizações, ela aconselha sobre como negar pedidos de horas extras e de sutilmente indicar que o salário não é compatível com a quantidade de tarefas exigidas.

 

Carla Ramalho criou o quadro Tecla SAP Corporativa em seu canal — Foto: Reprodução/TikTok

Carla Ramalho criou o quadro Tecla SAP Corporativa em seu canal — Foto: Reprodução/TikTok

Isso a fez abrir a própria companhia no ramo de comunicação, para prestar consultoria na área de marketing para pequenas e médias empresas.

Para elaborar as respostas, Carla também usa a própria experiência com as lições que aprendeu nos treinamentos de liderança e de comunicação não violenta.

"Naturalmente tenho a personalidade mais explosiva. Sempre recebi feedbacks muito negativos em torno disso, que o problema não estava no que eu falava, mas na forma que eu falava. Então eu acabei tendo que me adaptar a esse meio", disse.

Relatos envolvendo os problemas de comunicação com gestores estão entre os assuntos recorrentes. O tema é polêmico, já que tratar assuntos complicados com os superiores muitas vezes envolve o medo de ser demitido.

A análise de Carla Panicio é de que as pessoas não sabem se expressar e os gestores muitas vezes não aceitam feedbacks ou a todo momento estão querendo fugir de conflitos. No entanto, o intercâmbio de ideias é justamente o necessário para que se chegue numa solução.

“A linguagem corporativa é como aquilo que chamamos de 'juridiquês' ou 'mediquês': serve para separar os 'vencedores', que conseguiram ‘chegar lá’, ou seja, fazer parte de uma firma, dos 'perdedores', os que não conseguiram e são meros trabalhadores em funções pouco reconhecidas", explica.

Os problemas de comunicação são sintomas da atual precariedade do mundo do trabalho, que possui uma cultura organizacional pautada em uma falsa polidez e educação, segundo a consultora da 4CO e pesquisadora das relações de trabalho Thatiana Cappellano.

 

Dominar esse “corporativês” é uma forma de se fazer pertencente àquela cultura, explica Thatiana.

 

Para ela, uma das soluções viáveis é que as empresas busquem relações menos hierarquizadas com os colaboradores. "Educação é quesito mínimo. E ser educado não tem nada a ver com esse 'corporativês'. O trabalhador pode ajudar a organização a perceber essas falácias. Com respeito, com tato”, afirma.

Para Vitor Morais, que trabalha com comunicação estratégica com empregados, esses "eufemismos corporativos" predominam nas áreas administrativas.

 

"Até acredito que eles são uma das buscas por uma comunicação não violenta, mas acabam beirando a agressividade passiva, pois as palavras e expressões nunca têm seu sentido em si”, reflete.

 

Como acontece com todo linguajar, a interpretação depende do meio em que a fala está inserida e para quais profissionais é dirigida. Por isso, nenhuma regra substitui a sinceridade e o respeito já que, isoladamente, a expressão pode soar educada, mas com todas as nuances do contexto em que é usada pode ser interpretada de maneira negativa.

Como evitar má interpretação

Para evitar o desrespeito de ambas as partes, algumas estratégias podem ser usadas. Morais cita algumas delas:

  1. Tanto os profissionais quanto as empresas podem olhar ao redor e ler as pessoas, buscando qual forma de comunicação pode ser mais bem compreendida entre as pessoas.
  2. Também é preciso evitar as entrelinhas. Para uma boa execução das tarefas e também um bom relacionamento interpessoal é preciso dar comandos ou fazer pedidos de maneira clara, sem supor que o receptor da mensagem vá captar algo que não foi deixado explícito.
  3. Preparar as lideranças para lidar com diferentes gerações é a melhor maneira de promover um diálogo transparente, evitando conflitos.

"No trabalho, a gente encontra um emaranhado de gerações, formas de ver o mundo e de consumi-lo. Tudo isso vai interferir nas regras invisíveis que as pessoas vão querer seguir. Tem gente que vai achar educado falar por meio de eufemismos. Tem gente que vai achar uma chatice, e até falso”, finaliza Morais.

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