Comércio vive pior fim de ano em décadas e lojistas apontam as causas
Redação
Região Central
A chegada do fim de ano, período tradicionalmente marcado pelo aumento nas vendas, não trouxe o fôlego esperado aos comerciantes do Centro de Cuiabá. Em vez do habitual crescimento no movimento, muitos lojistas relatam um cenário desolador, com quedas que chegam a 80% em comparação a anos anteriores — um dos piores registros da última década.
Quem trabalha na região afirma que a situação se agravou em 2025. Para eles, dois fatores têm sido decisivos para afastar os consumidores: o estacionamento rotativo pago e a presença crescente de moradores de rua e usuários de drogas nos principais corredores comerciais.
A gerente de uma loja infantil, Vera Lúcia, descreve um movimento “quase inexistente”. Segundo ela, a queda nas vendas foi de ao menos 40% em relação ao mesmo período de 2024.
“O Centro está deserto. Outros anos já eram fracos, mas desta vez foi além do esperado. Nem parece novembro, quando geralmente tudo melhora”, lamentou.
No setor de joias, a situação é ainda mais crítica. A empresária Valdilene Soares relata uma retração de cerca de 80% desde julho.
“Estou aqui há dez anos e nunca vi algo parecido. A gente espera o fim de ano como uma esperança, mas este ano só piorou”, afirmou.
Estacionamento rotativo afasta clientes
Grande parte dos comerciantes culpa o estacionamento pago, implantado nas principais vias do Centro. Eles afirmam que a cobrança não apenas espantou consumidores, como também tornou a experiência de compra mais estressante.
“Muitos clientes entram correndo, preocupados com o tempo do ticket. Outros nem chegam a descer do carro porque não querem pagar ou não encontram vaga. Isso afastou bastante gente”, explicou Edna Costa Simão, dona de uma loja de lingerie.
Além do custo, comerciantes relatam dificuldade no uso das máquinas, necessidade de baixar aplicativos e falta de acessibilidade — fatores que tornam o deslocamento até o Centro menos atrativo.
Outro ponto crítico citado pelos lojistas é o aumento de usuários de drogas e a sensação de insegurança.
“Tem dia que as pessoas evitam até caminhar na calçada. Muita gente de rua, muita abordagem… o cliente não se sente seguro”, relatou Edna.
O presidente da CDL Cuiabá, Júnior Macagnam, concorda que o problema é grave. Ele afirma que a combinação de sujeira, abandono e insegurança tem contribuído para o esvaziamento da região e impulsionado o crescimento das compras online — que já representam 20% do público cuiabano.
CDL promete ações de estímulo
Para tentar reverter a situação, a CDL Cuiabá afirma que lançará campanhas ainda em novembro para incentivar o consumo local e capacitar os comerciantes.
“É essencial que as lojas do Centro ofereçam boas experiências ao consumidor. A concorrência com o digital é forte, e precisamos agir”, disse Macagnam.
O presidente também destacou que, antes das eleições de 2024, foram apresentadas ao então candidato e hoje prefeito Abilio Brunini (PL) 32 propostas de revitalização do Centro Histórico. As ideias incluem medidas de segurança, recuperação urbanística e ações sociais e devem começar a ser implementadas a partir de 2026.
Enquanto isso, lojistas seguem preocupados e com poucas expectativas para o Natal — período que tradicionalmente salva o ano, mas que, em 2025, ainda não deu sinais de reação.