Cerca de 417 milhões de crianças vivem múltiplas privações
Redação
Alerta da Ubicef
Um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado nesta quinta-feira (20), Dia Mundial da Criança, revela um cenário alarmante: 417 milhões de crianças em países de baixa e média renda sofrem privações severas em pelo menos duas áreas fundamentais para seu desenvolvimento. O número representa uma em cada cinco crianças nos 130 países analisados.
O estudo Situação Mundial das Crianças 2025: Erradicar a Pobreza Infantil mede a pobreza multidimensional a partir de seis eixos essenciais — educação, saúde, nutrição, moradia, saneamento e água. Desse total, 118 milhões de crianças convivem com três ou mais privações, e 17 milhões enfrentam quatro ou mais limitações graves.
A diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, reforça a gravidade dos impactos.
“Quando uma criança cresce privada de nutrição adequada, saneamento básico e um ambiente seguro, suas chances de desenvolvimento saudável são drasticamente comprometidas”, afirmou. Para ela, políticas públicas consistentes têm poder de transformar esse cenário. “Governos podem mudar vidas quando priorizam a erradicação da pobreza infantil.”
Avanços lentos, mas importantes
Apesar dos desafios, o relatório indica algum progresso: entre 2013 e 2023, a proporção de crianças enfrentando pelo menos uma privação severa caiu de 51% para 41% nos países de baixa e média renda. O avanço foi puxado por investimentos em políticas de proteção social e direitos da infância.
Regiões como África Subsaariana e Sul da Ásia continuam registrando as maiores taxas. No Chade, por exemplo, 64% das crianças sofrem duas ou mais privações graves.
A desigualdade de acesso a saneamento básico também chama atenção. Em países de baixa renda, 65% das crianças vivem sem banheiro adequado — uma situação que aumenta o risco de doenças como diarreia, dengue e outras infecções.
Exemplos de progresso
O Unicef destaca países que conseguiram resultados expressivos nas últimas décadas.
– Tanzânia: reduziu a pobreza infantil multidimensional em 46 pontos percentuais desde 2000, impulsionada por programas de transferência de renda e autonomia financeira das famílias.
– Bangladesh: diminuiu em 32 pontos percentuais, com forte investimento em moradia, acesso à educação, eletrificação e saneamento. O país reduziu a defecação a céu aberto de 17% para 0% entre 2000 e 2022.
Pobreza monetária também cresce
Além das privações estruturais, o relatório avalia a pobreza monetária. Hoje, mais de 19% das crianças do mundo sobrevivem com menos de US$ 3 por dia. Cerca de 90% dessas crianças vivem na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
Em países ricos, o problema também persiste: cerca de 50 milhões de crianças (23% da população infantil dessas nações) estão em pobreza monetária relativa. Em países como França, Suíça e Reino Unido, o índice cresceu mais de 20% na última década.
Risco de retrocesso
O Unicef alerta que cortes recentes em ajuda humanitária global podem deixar 6 milhões de crianças fora da escola já no próximo ano.
“Mesmo antes da crise de financiamento, milhões de crianças já estavam sem acesso ao básico”, afirmou Russell. Ela reforça que governos e empresas devem ampliar investimentos em nutrição, saúde e educação.
“Investir nas crianças é investir em um futuro mais justo, saudável e pacífico.”