PCC amplia atuação e lucra com o mercado ilegal de agrotóxicos no Brasil
Redação
Levantamento
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelou a participação da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em um esquema bilionário de falsificação e contrabando de agrotóxicos, que movimenta cerca de R$ 20,8 bilhões por ano no país. A descoberta ocorreu durante uma investigação sobre agiotagem em Franca, no interior paulista.
Durante a operação, o MP-SP interceptou mensagens entre dois integrantes da facção, que tratavam da venda de defensivos agrícolas ilegais para lavouras de café. Em uma das conversas, o grupo mencionava o recebimento de R$ 40 mil “pelo veneno”, além de um calote em outra negociação — o comprador, segundo os criminosos, seria incluído na “lista negra” por não pagar a carga roubada.
A ação resultou na apreensão de mais de 30 mil embalagens que seriam utilizadas para falsificar produtos agrícolas, configurando uma das maiores operações já realizadas no estado contra o comércio ilegal de agrotóxicos.
De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira (Idesf), o mercado paralelo é sustentado por uma rede complexa de crimes, que envolve:
- Roubo de cargas com produtos químicos autorizados;
- Falsificação de defensivos agrícolas com mistura de compostos legais e ilícitos;
- Contrabando de substâncias proibidas no Brasil, principalmente vindas do Paraguai;
- Desvio de finalidade, quando produtos legais são importados e usados na adulteração de agrotóxicos.
Os criminosos atuam em diferentes frentes: há quem produza as embalagens falsas, quem emita notas fiscais fraudulentas e quem manipule os produtos. O contrabando direto, no entanto, é considerado mais vantajoso — o criminoso importa o defensivo do Paraguai, onde o princípio ativo é legalizado, paga os tributos locais e o revende no Brasil com rótulo falso de uma marca conhecida.
Segundo o Idesf, a BR-163 é a principal rota de entrada do produto ilegal, com mais de 54 toneladas apreendidas entre 2018 e 2021. As rodovias BR-116 e BR-262 também aparecem entre as mais utilizadas.
Além dos danos econômicos e à saúde, o descarte irregular de embalagens alimenta o ciclo criminoso. “Quando as embalagens não são encaminhadas para reciclagem, acabam nas mãos do crime e voltam ao mercado de forma ilegal”, explicou o promotor Adriano Mellega, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
A CropLife Brasil, entidade que representa empresas do setor de biotecnologia e defensivos agrícolas, pediu reforço na fiscalização. “É urgente ampliar as ações de repressão e controle por todas as autoridades responsáveis pelo tema”, destacou a associação.
As Polícias Federal e Rodoviária Federal foram procuradas para comentar o avanço do mercado ilegal, mas ainda não se manifestaram.
O caso expõe como o crime organizado vem diversificando suas fontes de renda e infiltrando-se em setores estratégicos da economia — agora, com impacto direto na agricultura brasileira, na saúde pública e na sustentabilidade ambiental.