Dividida, direita perde fôlego na tentativa de se unir contra o governo Lula
Redação
Partido
A tentativa de articulação entre governadores e lideranças de direita, ensaiada há dois meses como um movimento de unificação contra o governo Lula (PT), perdeu força diante de disputas internas, desconfianças no grupo bolsonarista e da indefinição do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre seu sucessor em 2026.
Enquanto o campo conservador enfrenta impasses, o presidente Lula recuperou popularidade e voltou a pautar o debate político, amparado pela retomada do diálogo com o Congresso e pelo fortalecimento das mobilizações de rua da esquerda — que reagiu à proposta de anistia a Bolsonaro e à PEC da Blindagem.
O encontro que simbolizou o início do movimento ocorreu em 7 de agosto, poucos dias após a prisão domiciliar de Bolsonaro. Na ocasião, nove governadores — entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO) e Mauro Mendes (União-MT) — defenderam uma agenda conjunta e reuniões periódicas para consolidar um bloco oposicionista.
Mas o plano rapidamente esmoreceu. Conflitos de protagonismo, como a troca de ataques entre Caiado e o presidente do PP, Ciro Nogueira, além da resistência dos filhos de Bolsonaro à ideia de um novo líder da direita, travaram qualquer avanço.
Nesse cenário, Tarcísio, antes visto como herdeiro natural do bolsonarismo, reduziu o tom e passou a focar na reeleição em São Paulo, enquanto Ratinho Jr. tenta se viabilizar nacionalmente e Zema mantém sua disposição de disputar a Presidência, mesmo sem consenso interno.
O enfraquecimento da ofensiva da direita também se deve a outros fatores externos. A aproximação diplomática entre Donald Trump e Lula, a perda de protagonismo das críticas ao STF e a sobreposição de pautas como a ampliação da isenção do Imposto de Renda e a tramitação da anistia a Bolsonaro tiraram foco do movimento.
A família do ex-presidente, por sua vez, segue como elemento desestabilizador. Eduardo Bolsonaro, radicado nos Estados Unidos e denunciado pela PGR, passou a insinuar publicamente sua própria candidatura à Presidência, enquanto critica as articulações por um “sucessor artificial”.
Ciro Nogueira, um dos principais articuladores da frente de direita, tenta conter os embates e insiste na necessidade de “bom senso” e unidade, mas enfrenta resistência entre bolsonaristas mais radicais.
Com isso, o projeto de uma coalizão ampla de direita, que chegou a ser visto como uma alternativa concreta de poder para 2026, se desmancha antes mesmo de sair do papel, evidenciando o desafio de consolidar uma oposição coesa em meio à fragmentação de lideranças e à indefinição sobre o futuro político do bolsonarismo.