Com 1,6 milhão de vagas gratuitas, institutos federais são mistura de colégio com universidade
Redação
Senado
Os prédios com a sigla IF em verde e vermelho na fachada costumam provocar confusão. Quem passa diante de algum dos institutos federais espalhados pelo Brasil pode imaginar, dada a imponência, que ali funciona um colégio frequentado pela elite ou então, em razão do adjetivo “federal”, que se trata de uma universidade federal com nome diferente.
Nem uma coisa, nem outra. Os institutos federais são, na realidade, uma mistura de escola com universidade. Neles, o ensino é público e gratuito.
No lado escola, oferecem ensino médio, educação de jovens e adultos (EJA) e cursos técnicos profissionalizantes. No lado universidade, contam com graduação, especialização, mestrado e doutorado.
Todos os cursos são ministrados dentro do mesmo prédio. Esse híbrido de escola e universidade é um modelo único no mundo e 100% brasileiro.
— Nos institutos federais, vamos do alfinete ao foguete — resume a diretora-geral do campus do Instituto Federal de Brasília (IFB) localizado no Plano Piloto, Christine Rebouças Lourenço.
Existem hoje 38 institutos federais, cada um com mais ou menos 20 campi na sua respectiva região de abrangência. São, ao todo, 705 campi em funcionamento — um campus para cada oito cidades brasileiras. A rede, assim, consegue estar presente em quase todos os rincões do país.
Quase 860 mil alunos frequentam as salas de aula dos institutos federais. Também são oferecidos cursos rápidos de qualificação profissional. Adicionando os matriculados nesses cursos, o número total de estudantes chega a 1,6 milhão.
Os institutos federais têm salas de aula com lousa digital, biblioteca, laboratórios, salas de informática, anfiteatro, ginásio esportivo e piscina, entre outros equipamentos.
— Quando conhecem a infraestrutura, muitos estudantes de escolas públicas convencionais, em vez de ficar empolgados, acabam se intimidando e imaginando que o instituto federal não é lugar para eles. Precisamos acabar com essa impressão equivocada — afirma a diretora do campus do IFB.
Apesar da capilaridade dos institutos federais pelo território brasileiro, o desconhecimento de parte da sociedade é compreensível. Primeiro, porque eles são o braço mais novo da rede nacional de educação. Depois, porque quase não se faz propaganda deles.
O modelo começou a ser posto em prática há apenas 16 anos, a partir de uma lei aprovada pelo Senado e pela Câmara dos Deputados e assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo mandato (Lei 11.892, de 2008).
Os institutos federais são a grande política pública do governo federal para o ensino voltado ao mercado de trabalho. A tecnologia é o eixo que precisa atravessar todos os cursos.
O EJA e o ensino médio, por exemplo, são integrados ao ensino técnico. Também há cursos técnicos avulsos, para quem frequenta ou já concluiu o ensino médio. Na graduação, formam-se diferentes tipos de engenheiros e tecnólogos, entre outros profissionais. Na pós-graduação, a prioridade é dada às pesquisas que tenham aplicação prática e sejam de inovação tecnológica.
O modelo tem outras particularidades. Uma delas é a busca da inclusão social.
Outra peculiaridade dos institutos federais é o compromisso com o desenvolvimento social e econômico da região.
Antes de um campus ser aberto numa cidade, são organizadas audiências públicas para ouvir a comunidade, incluindo estudantes, sindicatos, associações de moradores e movimentos sociais, que apresentam suas expectativas e sugerem os cursos que dialogam com a realidade local.
Pela lei de criação dos institutos federais, os cursos técnicos precisam ser o carro-chefe do novo modelo. Pelo menos 50% das vagas devem ser destinadas à educação profissional. Embora os institutos federais também ofereçam cursos técnicos isolados, a prioridade são os integrados ao ensino médio.
A lei também estabelece que no mínimo 20% das vagas devem ser dedicadas à formação de professores da educação básica, especialmente em matemática, física, química e biologia. As licenciaturas, por isso, são a segunda prioridade dos institutos federais.
Os 30% restantes ficam, basicamente, com as graduações e pós-graduações das áreas de ciência, tecnologia e engenharia.