Setembro Amarelo: suicídio entre jovens aumenta 6% no Brasil em 11 anos


12/09/2024 às 09:06
Redação

Setembro Amarelo

suicídio de um aluno, de 14 anos, bolsista de uma escola da elite paulista, ganhou repercussão nacional, no mês de agosto. Um áudio atribuído ao adolescente revela que, ele que era negro, homossexual e de origem humilde, além de sofrer bullying no ambiente escolar. O caso não é isolado. A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022, e as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 aumentaram 29% a cada ano nesse mesmo período. O número foi maior que na população em geral, cuja taxa de suicídio teve crescimento médio de 3,7% ao ano e a de autolesão 21% ao ano, neste mesmo período. 

Os resultados foram encontrados na análise de um conjunto de quase 1 milhão de dados, divulgados em um estudo publicado na The Lancet Regional Health – Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard.

O dado alarmante desperta o alerta para as causas desse aumento, colocando o Brasil como país com maior aumento de suicídio e autolesão entre jovens. 

Ser constantemente intimidado, humilhado ou agredido pode gerar uma série de problemas emocionais que acompanham a vítima por muito tempo, podendo até se estender para a vida adulta. As vítimas de bullying frequentemente vivem em um estado de ansiedade constante, temendo a próxima agressão, seja ela verbal ou física. Esse medo pode evoluir para transtornos de ansiedade mais graves, como o transtorno de ansiedade generalizada ou o transtorno de pânico. 

Viver insultos e rejeições com frequência afeta a autoestima, fazendo com que ela se sinta inferior, inadequada ou sem valor. Esse sentimento pode levar à depressão, desesperança, perda de interesse em atividades, isolamento, tristeza e, em casos mais extremos, pensamentos suicidas. A internalização de tudo que é dito faz com que a vítima comece a acreditar que essas percepções são verdadeiras, agravando seu sofrimento”, explica a psicóloga Bárbara Couto.

Consequências do bullying

isolamento social, geralmente, é o primeiro sintoma de quem sofre bullying. As vítimas frequentemente se afastam dos outros como uma forma de proteção, evitando contato com colegas ou reduzindo sua participação em atividades escolares e sociais. 

“Esse isolamento piora os sentimentos de solidão e acaba privando de participar de atividades importantes para desenvolver habilidades sociais e construir relacionamentos saudáveis. E em alguns casos, o bullying pode desenvolver comportamentos agressivos. A criança ou adolescente pode começar a agir de forma defensiva, imitar o comportamento dos agressores, na tentativa de recuperar algum senso de controle ou poder”, alerta Bárbara, acrescentando que “em situações extremas, o bullying pode levar a comportamentos de automutilação ou até mesmo ao suicídio como uma forma de lidar com a dor emocional ou como um pedido de ajuda, na esperança de que alguém perceba seu sofrimento”.

Além disso, o desempenho escolar muitas vezes é afetado também. O estresse e a ansiedade gerados por essa violência podem interferir na capacidade de concentração e aprendizado, resultando em queda no desempenho acadêmico, absenteísmo e, em casos mais graves, evasão escolar.

E, na idade adulta as vítimas de bullying continuam a lutar com questões de autoestima, confiança, insegurança e dificuldades em relacionamentos e intimidade. 

“Estudos mostram que essas pessoas têm um risco maior de desenvolver problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), ao longo da vida. Além disso, o estresse crônico associado ao bullying pode ter impactos físicos, como dores de cabeça, distúrbios do sono, problemas gastrointestinais, entre outros”, enumera a psicóloga.

Escolas e famílias são fundamentais no enfrentamento do bullying

As escolas e famílias podem prevenir o bullying, através da educação e conscientização, mostrando que deve haver respeito pelas diferenças e pela diversidade humana. Por lei, a escola deve ser inclusiva

“Mas mais que isso, a escola deve adotar uma política muito clara contra o bullying, que tenha punições e proteja a vítima”, alerta Bárbara.

E a atenção e apoio da família são essenciais para identificar e enfrentar o bullying sofrido por uma criança ou adolescente. As famílias precisam se envolver na vida escolar dos seus filhos e conversar abertamente sobre formas de bullying para que o filho não pratique contra colegas ou seja vítima. 

“A família tem que defender e apoiar o seu filho se ele é vítima de bullying. Nunca dizer ‘Ah, deixa pra lá, ah, o outro é bobo!’ Quando os pais tentam minimizar o desconforto, achando que está ajudando, mostram que é normal sofrer essa violência. É muito importante que esses pais estejam com seus filhos, os defendam, corram atrás dos direitos deles, para que eles não se sintam inadequados, invisíveis e defeituosos. Importante mostrar que os defendeu e a entender que o problema não é com ele”, explica Bárbara.

Pressão social e de mídias sociais interferem na saúde emocional

A pressão por sucesso, conquistas e por uma vida perfeita, mostrada nas redes sociais também interfere diretamente na saúde mental. Os jovens são expostos a padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade.  Muitos influenciadores digitais demonstram que conquistar o que eles têm ou são é fácil, que precisa apenas se esforçar. Isso pode levar quem os segue a uma série de problemas psicológicos, como ansiedade, depressão, autoestima e sensação de fracasso. 

“A imaturidade emocional dessa fase faz com que os eles acreditem que precisam ser como os influencers. Os jovens precisam de um modelo e, nessa geração tão conectada, influencers podem exercer esse papel. E isso pode gerar sentimento de inadequação, insuficiência, baixíssima autoestima,  ansiedade, depressão, porque  são padrões que pouquíssimos conseguem alcançar ou quase ninguém, já que as redes sociais mostram uma perfeição que a humanidade não tem”, alerta a psicóloga.

Sinais de alerta para o suicídio entre os jovens

A mudança drástica de comportamento deve acender o sinal de alerta para um possível suicídio. Entre eles estão o isolamento, desinteresse em fazer as coisas que ele gostava, queda no desempenho escolar, mudança no padrão do sono, passando a dormir durante o dia, mudança na alimentação e verbalizar que desejaria estar morto, que irá cometer um suicídio. 

“Os pais precisam ficar bem atentos porque, muitas vezes, acham que é apenas uma fase. Mas pode ser consequência da depressão, que pode levar ao suicídio”, esclarece Bárbara.

E, quando a dor emocional já está insuportável, uma das formas que as pessoas, principalmente jovens têm de para tentar amenizar é se automutilando. 

“É preciso entender primeiro que quando a pessoa se corta não é para chamar a atenção. É uma tentativa desesperada de diminuir a dor, de preencher um vazio agoniante, é uma tentativa falida de administrar esse mal-estar terrível que eles estão vivendo”.

“É um jeito não verbal  de expressar essa dor emocional intensa que eles não conseguem lidar de outra forma. Se cortar é a busca de um alívio temporário desse sofrimento psicológico, que  dá  sensação imediata de controle sobre as emoções e tenta de uma forma não funcional comunicar ali o que estão sofrendo. Além de tratamento adequado para a depressão, é necessário abraçar esse jovem, acolher e aprender a olhar com mais amor a situação”, explica a psicóloga.

Importância da campanha de prevenção ao suicídio

Para a psicóloga Bárbara Couto, é muito importante promover campanhas como o Setembro Amarelo, de prevenção e desmistificação do suicídio, e mostrando que é um problema de saúde mental, que é o ápice do sofrimento. 

“Com o olhar e acolhimento adequados, entendendo melhor como funciona a nossa mente e o adoecimento emocional, deixa-se de ver o suicídio como fraqueza ou como falta de Deus, como muitos acreditam. O suicídio é uma maneira desesperada de tirar a própria dor. A pessoa que se suicida, geralmente, não quer morrer, ela quer parar de sofrer. E é possível conseguir isso com terapia e acompanhamento de profissionais de saúde mental. Além de ser acolhido e não ter seu adoecimento julgado por ninguém”, finaliza Bárbara.

Se precisar, peça ajuda!

Ao apresentar sinais, é fundamental procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio, além de conversar com alguém em quem confie. Também é possível entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida – CVV, formado exclusivamente por voluntários, que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente por meio de conversa sigilosa, sem julgamentos, críticas ou comparações. O atendimento é realizado pelo telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação), chat e e-mail.

Em colaboração: Bárbara Couto, psicóloga graduada pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB), com mestrado em psicologia clínica e saúde pela Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha. Também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e  em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.

Fonte: IstoÉ bem-estar

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