DoxiPEP: riscos e vantagens da “pílula do dia seguinte” contra sífilis


06/05/2024 às 14:22
Redação

Saúde

Uma postagem de 24 de abril de um homem comemorando a chegada de suas caixas de doxiciclina no X, antigo Twitter, foi vista por mais de 3 milhões de pessoas. No texto curto, ele sugere que é possível fazer sexo sem proteção com o uso da doxiPEP.

A doxiPEP é uma abreviação para “uso de doxiciclina como profilaxia pós-exposição” – uma estratégia experimental que prevê o uso da medicação para prevenir clamídia, sífilis e gonorreia.

A doxiciclina é um antibiótico usado contra a malária, que está sendo usado experimentalmente para prevenir as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Dentro dos estudos clínicos, o remédio costumo ser administrado em dose única entre 24h e 72h após o possível contato com as enfermidade. Fora de estudos clínicos o uso é “off-label”.

A doxiPEP se inspira em técnicas da PEP (profilaxia pós- exposição), que evitam a possibilidade de replicação do vírus HIV caso o paciente tenha passado por um episódio de violência sexual. A ideia é que o uso da pílula ocorra no dia seguinte à possível exposição, e que sua utilização seja excepcional, pois o uso constante atrapalha o funcionamento do sistema de defesa do organismo.

Em um de 2023 realizado na África do Sul, o uso da estratégia diminuiu os contágios de doenças sexuais bacterianas entre os voluntários analisados. Em uma pesquisa com pessoas que faziam a PrEP ou viviam com o HIV, a medicação levou à redução de 88% dos casos de clamídia, 87% dos de síflis e 55% dos de gonorreia. Um estudo semelhante com mulheres quenianas em 2024, porém, não mostrou eficácia.

A terapia não é efetiva contra as doenças de tipo viral, que são as hepatites, o HIV, a herpes e a mpox.

DoxiPEP pode ter efeitos colaterais

A infectologista Keilla Freitas, que atende em São Paulo, diz que tem aumentado o número de pacientes buscando informações sobre a doxiPEP, especialmente entre aqueles que usam profilaxias pré-exposição ao HIV (a PrEP). Ela ressalta, porém, que muitos pacientes desconhecem as limitações da estratégia.

“Sempre que a gente fala em antibiótico como profilaxia, a gente tem que pesar muito bem o risco/benefício, pois há impacto tanto para o paciente como para a população. Este esquema não pode, por exemplo, ser usado toda semana. Com maior uso, há maior chance complicações como inflamações intestinais, pois o remédio elimina parte da microbiota intestinal”, explica.

A doxiciclina também tem efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, diarreia e sensibilidade à luz solar. Keilla ressalta que há uma preocupação grande de infectologistas com o uso indiscriminado da estratégia entre a população, que pode contribuir com a criação de bactérias resistentes. A médica lembra que a recomendação deve ser feita por indicação médica e na posologia recomendada.

“Não é algo 100% seguro e há limitações. Por exemplo, no caso de bactérias da gonorreia, a eficácia é menor, já que são bactérias naturalmente resistentes. Na sífilis e na clamídia, o impacto é comprovado, mas o tratamento só é indicado em casos mais específicos”, explica ela.

Fonte: Metrópoles

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