Desmatamento cresce em MT e coloca metas climáticas em risco, aponta ICV
Redação
Alerta
Mato Grosso registrou um forte aumento na destruição de seus biomas entre agosto de 2024 e julho de 2025, acendendo um alerta sobre o cumprimento das metas ambientais previstas para a próxima década. Segundo nota técnica divulgada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) nesta segunda-feira (17), o desmatamento na Amazônia mato-grossense cresceu 25%, enquanto o Cerrado teve alta de 5,5% no mesmo período.
Ao todo, foram suprimidos 1.572 km² de vegetação na Amazônia e 455 km² no Cerrado. O levantamento revela que 65,5% dessa área foi desmatada sem autorização ambiental, evidenciando fragilidades no controle e no combate às práticas ilegais.
Governança ambiental sob pressão
Os analistas do ICV alertam que, para cumprir os compromissos estaduais — que incluem zerar o desmatamento ilegal até 2030 — será preciso reduzir drasticamente tanto o desmate ilegal quanto o autorizado, especialmente no Cerrado. Entretanto, o instituto aponta que o cenário político atual tem ampliado os desafios.
“A governança ambiental enfrenta retrocessos com propostas no Executivo e no Legislativo que enfraquecem instrumentos de fiscalização e proteção”, destaca a nota.
Moratória da Soja em risco
Entre as principais ameaças citadas está o fim dos efeitos da Moratória da Soja em Mato Grosso. A Assembleia Legislativa retirou incentivos fiscais de empresas que aderem ao acordo, e a mudança foi sancionada pelo Governo do Estado.
A Moratória — que impede a compra de soja vinda de áreas desmatadas na Amazônia após 2008 — é apontada como responsável por reduzir de 30% para cerca de 1% o avanço da soja sobre vegetação nativa. A coordenadora de Conservação e Clima do ICV, Ana Paula Valdiones, alerta que sua desarticulação pode provocar novo ciclo de devastação, seja por abertura direta de novas áreas, deslocamento de outras culturas ou especulação fundiária.
Projetos que podem ampliar a devastação
Outro ponto crítico é o Projeto de Lei Complementar (PLC) 18/2024, que pretende reclassificar áreas de floresta como Cerrado, flexibilizando regras ambientais e podendo liberar até 5 milhões de hectares de Reserva Legal. A proposta contraria critérios técnicos do IBGE e do Mapa da Vegetação Brasileira.
Mudança no perfil do desmatamento
O estudo mostra ainda que 58,2% da perda de floresta na Amazônia ocorreu por degradação progressiva — processo impulsionado por incêndios repetidos, que enfraquecem a estrutura da mata até sua morte. Mato Grosso é um dos estados que mais perdem vegetação por esse tipo de degradação, reforçando o impacto crescente do fogo.
Cerca de 74,8% de todo o desmatamento registrado ocorreu em imóveis rurais cadastrados. Marcelândia lidera o ranking no estado, com 97,5% de desmatamento ilegal e 84% provocado por degradação progressiva.
Riscos e caminhos
Valdiones ressalta que o aumento do desmatamento tem levado o Judiciário a ser acionado com frequência para garantir o cumprimento do direito constitucional a um meio ambiente equilibrado. Segundo ela, o avanço da destruição só será contido com políticas que integrem produção e conservação.
“O desenvolvimento de Mato Grosso depende de valorizar o capital natural do estado, que garante chuvas, regula o clima, mantém a fertilidade dos solos e sustenta a biodiversidade”, afirma.
A nota técnica conclui que, sem mudanças estruturais e políticas alinhadas às metas climáticas, Mato Grosso corre o risco de retroceder em compromissos estratégicos para o futuro ambiental e econômico do estado.