PF aponta fraude bilionária em recuperações judiciais do agronegócio ligada ao grupo Fource
Redação
Operação
Um relatório parcial da Polícia Federal (PF) sobre a investigação de venda de decisões judiciais revela a existência de um esquema de fraudes em recuperações judiciais milionárias ligadas ao agronegócio, supostamente conduzido pelo grupo empresarial Fource. O documento indica que o funcionamento do esquema se sustentava na produção de documentos formalmente regulares, mas materialmente falsos, cuja validade dependia da corrupção judicial.
Segundo a PF, o inquérito detectou que os principais processos sob suspeita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) envolvem falências e recuperações judiciais de grandes grupos do agro. Em um dos casos, o próprio empresário José Pupin, produtor de algodão e beneficiário de uma recuperação judicial, admitiu à Justiça operações fraudulentas em seu processo — denúncia inicialmente revelada pelo Estadão.
O relatório descreve com detalhes o modo de operação do grupo. A primeira etapa consistia na manipulação da competência territorial, com a criação de filiais fictícias e redomiciliações artificiais, para direcionar os processos ao chamado “juízo ótimo” — tribunais supostamente complacentes e previsíveis. Em seguida, ocorria a cooptação de administradores judiciais e a inserção de créditos falsos nos processos, utilizando empresas do mesmo grupo econômico, o que permitia controlar votações e manipular a compra de créditos por valores abaixo do mercado.
De acordo com a PF, as decisões fraudulentas eram legitimadas por meio de influência em gabinetes, manipulação de minutas e antecipação de despachos, transformando atos irregulares em decisões formalmente válidas. “Sem a corrupção judicial, permaneceriam ineficazes; com ela, convertem-se em atos processuais formalmente válidos”, diz o relatório.
Ao final das operações, o grupo empresarial se beneficiava duplamente: evitava o pagamento de dívidas e ampliava seu patrimônio por meio da aquisição fraudulenta de ativos.
O relatório também menciona que a PF solicitou ao ministro Cristiano Zanin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), autorização para aprofundar as investigações, incluindo a apuração do envolvimento de novos personagens e até familiares de magistrados.
Outro ponto destacado é a atuação do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, suspeito de intermediar a venda de decisões. Ele teria criado contatos falsos em seu celular, com nomes de supostos servidores do STJ, mas que, na realidade, eram advogados.
O delegado Marco Bontempo, responsável pelo caso, pediu afastamento da investigação, alegando motivos de saúde.
Procurada, a Fource não se manifestou sobre as conclusões do relatório da PF.