Clima esquenta na Câmara de Cuiabá após denúncia sobre compra emergencial de medicamentos
Carolina Miranda/Larissa Malheiros
CLIMA QUENTE
A sessão ordinária desta quinta-feira (26), na Câmara Municipal de Cuiabá, foi marcada por fortes embates entre os vereadores, após a ida da secretária municipal de Saúde, Lucia Helena Barboza, e da presidente da Empresa Cuiabana de Saúde Pública, Tânia Magalhães, ao plenário. As gestoras foram convocadas para prestar esclarecimentos sobre a compra emergencial de medicamentos realizada pela Prefeitura.
O clima esquentou quando o vereador Jeferson Siqueira (sem partido) usou a tribuna para denunciar a contratação da empresa MT Farmace, mesmo após a mesma ter sido desclassificada em processo licitatório para fornecimento de dipirona. Segundo ele, a empresa foi contemplada com um contrato emergencial de R$ 200 mil, mesmo com histórico de irregularidades e tendo sido alvo da Polícia Federal nos últimos três anos.
“É estranho ver a Prefeitura, que sempre diz combater a corrupção, repetir velhas práticas. O prefeito Abílio afirma que luta contra esquemas, mas está fazendo justamente o contrário”, criticou Siqueira.
A fala gerou reação imediata do vereador Tenente-Coronel Dias (PL), que saiu em defesa da gestão. Ele argumentou que a decisão de não utilizar o consórcio público para a aquisição dos medicamentos foi política, e não técnica. “O povo está cansado de ver operações e escândalos na saúde. Mas é preciso responsabilidade antes de acusar sem provas”, rebateu.
Em meio à discussão, Dias ainda declarou:
“É fácil fazer discurso inflamado, mas difícil é administrar. A gestão atual está enfrentando gargalos herdados e tentando corrigir. O que me preocupa é o uso político de pautas sérias, como a saúde. A crítica é válida, mas precisa ser responsável.”
A resposta elevou ainda mais os ânimos. Siqueira retrucou em tom exaltado: “Não aceito ser questionado por quem ainda está de fralda. Votei 11 vezes pela abertura de uma CPI da Saúde na gestão passada. Me respeite. Analise a minha trajetória. Faço um desafio: se eu sugerir a abertura de uma CPI, o senhor assina? Não preciso da sua qualificação para exercer meu mandato”.
Dias respondeu: “Fica muito evidente a diferença entre as gestões. A nossa está enfrentando os problemas de frente. E não se esqueça: por trás deste terno há uma farda.”
Siqueira ainda ironizou a justificativa apresentada pela Empresa Cuiabana, que classificou um sobrepreço de R$ 22 mil como “erro de digitação”. “Isso não é falha, é escândalo. Com esse valor, daria para comprar muitos outros medicamentos. Eu provo tudo o que estou dizendo”, afirmou.
A presidente da Empresa Cuiabana, Tânia Magalhães, confirmou que houve divergências documentais, mas afirmou que a contratação da MT Farmace foi emergencial, já que não havia tempo hábil para contratar novas fornecedoras. Segundo ela, a contratação seguiu o preço público de referência e foi feita com base em necessidade imediata de abastecimento.
Apesar dos esclarecimentos, Jeferson Siqueira concluiu que a visita das representantes da Saúde apenas reforçou a falta de organização da pasta. “O que ficou claro é que ninguém sabe exatamente o que está fazendo. Falam em mudanças, mas mantêm os mesmos contratos e justificativas frágeis”, finalizou.