Exposição de arte no México é alvo de boicote católico por 'blasfêmia'
Redação
Arte
O artista Fabián Cháirez está recebendo críticas e boicote de católicos no México por sua exposição "A vinda do Senhor" ("La venida del Señor", originalmente)
O que aconteceu
Exposição foi inaugurada no dia 5 de fevereiro na Antiga Academia de San Carlos, da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), no Centro Histórico da Cidade do México. Marcada por erotismo e arte sacra, as artes de Fabián estão sendo vistas como blasfêmia.
Diversos fiéis e grupos católicos estão indo até a exposição protestar contra as obras: "As manifestações que vi em vídeos e nas redes sociais me parecem fantásticas e bonitas. Acho ótimo fazer uma ação de protesto como essa. Até mesmo as pessoas que rezam contribuem para a experiência das pinturas e da galeria, ouvindo essas orações", disse o artista Fabián em entrevista ao El Universal nesta quarta-feira (19)
Obras de Fabián possuem teor erótico e religioso como marca registrada: "É comum nas pinturas do Fabián Cháirez essa revisão crítica dos símbolos mais normativos da sociedade a partir do olhar homoerótico", explica a Splash Wes Chagas, curador e podcaster.
A Splash, Fabián respondeu se há chances de sua exposição vir ao Brasil: "Ainda não [tem previsão de chegar aí], mas adoraria", disse. "Aqui, o interesse em artistas que falam de sexualidade está bem baixo", afirma o curador Wes Chagas.
Católicos não gostaram de ver as obras. Ao todo, nove peças estão expostas e mostram seres do meio católico como anjos, o Espírito Santo, freiras e cardeais em interações eróticas com objetos sacros.
O padre Eduardo Hayen Cuaron, da diocese de Juaréz, no México, foi um dos que teceram críticas públicas. Contudo, ele apagou um tuíte crítico e afirmou que estava rezando por Fabián: "Não posso deixar de rezar a Deus pela conversão do pintor e, sobretudo, para que nós, cristãos católicos, não sejamos indiferentes às blasfêmias contra Jesus Cristo e a Igreja".
O padre disse ainda que os católicos merecem ser ouvidos perante instituições como a Comissão Nacional de Direitos Humanos e afirmou que reclamações seriam feitas em conjunto com a diocese da Cidade do México e associações de fiéis. "[Também] devem ser feitas orações de reparação pelo sacrilégio cometido, sem ódio, sem ressentimento e pedindo a Deus que converta aqueles que odeiam a Igreja", complementou.
Em seu Instagram, o artista mexicano Fabián Cháirez mostrou o processo criativo de quadro com freira e anjo ajoelhado
Imagem: Reprodução/Instagram @fabian_chairez
Fabián rebateu o pároco também no X (antigo Twitter): "Nem insulto, nem escárnio. A arte só busca nos dar alegria livre de culpa"
No início da semana, a Associação de Advogados Católicos do México, que diz representar nove mil católicos, afirmou que não poderia se calar: "Nós, católicos, não somos submissos, não nos calamos diante dessa adversidade e é por isso que hoje estamos agindo, denunciando coletivamente esse pseudoartista", criticou o diretor jurídico da associação, Carlos Ramírez, que tem 60 mil seguidores no Instagram.
O artista Fabián Cháirez recebeu apoio. O Coletivo Teresa de Cepeda e Ahumada e a Colaisão Mexicana LGBTQIAPN+ divulgaram notas de repúdio contra as tentativas de censura da exposição, que segue na programação de segunda a sexta das 10h às 18h até 7 de março.
Fabián pediu para que quem for ver sua exposição evite confrontos. Católicos críticos têm ido ao local tentar impedir a visualização de obras. Um manifestante precisou ser retirado do local pelos braços e pernas na última semana. Grupos católicos também fazem orações para os visitantes das obras.
Fonte: Uol