Cubanos do Mais Médicos que ficaram no Brasil concorrem nas eleições
Redação
Veja
Médicos cubanos que participaram do programa Mais Médicos e que optaram por ficar no Brasil após o fim do acordo com Cuba, em 2018, são candidatos nas eleições deste ano, pela primeira vez. A reportagem do Metrópoles confirmou pelo menos oito casos, em diferentes cidades e estados do país.
Três deles vão aparecer nas urnas, neste domingo (6/10), como “Dr. Cubano”, nome político adotado após a relação construída com os moradores dos respectivos municípios. Um desses casos é o de Yoanis Infante Rodriguez, de 43 anos, candidato a vereador em Mossoró (RN).
No Instagram, o Dr. Cubano (PSDB) se diz médico, empresário e naturalizado brasileiro. A campanha dele possui o seguinte slogan: “Mossoró quer o doutor!”. Nos registros do Mais Médicos, consta que Yoanis começou a atuar no Brasil, pelo programa federal, no dia 2 de maio de 2014.
Após o encerramento da parceria entre o governo brasileiro e a Organização Panamericana de Saúde (Opas), no final de 2018, ele e os colegas cubanos vivenciaram o dilema de continuar ou não no país. Para seguir no Brasil, e sem o devido registro profissional de médico, Yoanis chegou a trabalhar como balconista de farmácia em Mossoró.
Assim como os demais cubanos candidatos remanescentes do Mais Médicos, ele disputa pela primeira vez um cargo público no Brasil. Os oito casos confirmados pelo Metrópoles obtiveram a naturalização brasileira entre 2019 e 2023. Essa é uma condição obrigatória para que estrangeiros possam se candidatar no país.
Dois cubanos na disputa de vice-prefeito
Dois dos oito médicos cubanos que estarão nas urnas são candidatos a vice-prefeito. Elvis Martinez Guillen, o Dr. Elvis (Solidariedade), de 39 anos, aparece na chapa de Ezequiel Xavier (Solidariedade), em Guaratinga (BA). Nas redes sociais, o profissional que atuou no Mais Médicos a partir de 29 de abril de 2014, apresenta-se como clínico geral e terapeuta holístico.
Ele obteve a naturalização brasileira em abril de 2020 e está com o registro profissional regular no Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Pela atuação como médico de saúde da família, Dr. Elvis ficou conhecido, na cidade, como “o médico do povo”. Essa relação próxima com a população ajudou a catapultá-lo politicamente.
No sul do Brasil, a cubana Brizaida Silot Ramirez Staudt, a Dra. Brizaida (MDB), de 37 anos, também concorre à vice. Ela é candidata em São Sebastião do Caí (RS), na chapa do ex-prefeito Darci Lauermann (MDB). A médica obteve a naturalização brasileira em fevereiro de 2020 e está com o registro ativo desde 2017 no CRM do Rio Grande do Sul.
“Não é a origem que determina onde as pessoas podem chegar”
Na pequena Arame, cidade maranhense de 25 mil habitantes e que fica a 475 quilômetros de São Luís, o representante cubano que tenta uma vaga na câmara municipal é Lazaro Ruben Garcia Matias, o Dr. Lazaro (União Brasil), de 53 anos. Assim como Elvis, em Guaratinga (BA), ele também carrega o slogan de “O médico do povo”.
O cubano fez parte das primeiras seleções do Mais Médicos. Ele começou a atuar em 21 de setembro de 2013, pouco mais de dois meses após o lançamento do programa, e foi naturalizado brasileiro em janeiro de 2020. Um dia antes do início oficial da campanha eleitoral, Lazaro publicou a seguinte mensagem no Instagram:
“Não é a origem nem a raça das pessoas que determina até onde elas podem chegar. É a condição humana, baseada em valores e virtudes, que determina essa caminhada.”
O que diz a lei sobre candidaturas de estrangeiros no Brasil
A Constituição Federal estabelece regras tanto para quem pode votar, quanto para quem pode se candidatar no Brasil. O artigo 14 estipula as seguintes condições de elegibilidade: nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e idades mínimas, que são:
- 35 anos para presidente, vice-presidente e senador;
- 30 anos para governador e vice-governador;
- 21 anos para deputados, prefeitos e vice-prefeitos;
- 18 anos para vereador.
No artigo 12, a Constituição define quem são considerados brasileiros. Nesse caso, entram as categorias de brasileiro nato (nascido no Brasil ou filho de brasileiro nascido no exterior, desde que registrado, também, em repartição brasileira) e de naturalizado, que é o caso dos médicos cubanos candidatos nas eleições deste ano.
Os estrangeiros naturalizados, no entanto, não podem se candidatar para qualquer cargo no Brasil, mas, para vereador e vice-prefeito, podem. São privativas de brasileiros natos as seguintes posições:
- presidente e vice-presidente da república;
- presidente da Câmara dos Deputados;
- presidente do Senado Federal;
- ministro do Supremo Tribunal Federal (STF);
- carreira diplomática;
- oficial das Forças Armadas;
- e ministro de Estado da Defesa.
Fonte: Metrópoles