Quando o desenho fala: acolhimento imediato diante de sinais de sofrimento
Redação
ALERTA
A infância e a adolescência são fases repletas de descobertas emocionais e mudanças comportamentais. Diante da dificuldade natural que crianças e adolescentes têm para expressar verbalmente o que sentem, é comum que recorram a desenhos, textos ou atitudes para demonstrar incômodos e conflitos internos. Para pais, responsáveis e educadores, reconhecer esses sinais é fundamental — e saber como agir diante deles é ainda mais importante.
A psicóloga Évila Aquino, gerente de assessoramento de atendimento da Defensoria Pública de Mato Grosso (DPEMT), explica que a primeira reação dos adultos deve ser sempre baseada no acolhimento, nunca em cobranças ou julgamentos.
“O ideal é conversar de forma tranquila, sem pressionar, buscando entender se a criança deseja falar sobre o que produziu. Também é essencial observar outras mudanças de comportamento, como isolamento, queda no rendimento escolar ou medo excessivo”, afirma.
Segundo Évila, ao identificar qualquer sinal, o adulto deve comunicar imediatamente a direção da escola ou o responsável legal, descrevendo o que foi observado de maneira objetiva, sem interpretações pessoais.
Rede de proteção deve ser acionada diante de sinais de violência
A psicóloga reforça que, em casos que indiquem violência física ou psicológica, a orientação é buscar avaliação profissional e acionar, sem demora, os órgãos de proteção.
“Apenas um profissional pode confirmar situações de violência. Se houver suspeita de risco iminente, é necessário acionar o Conselho Tutelar ou os serviços de proteção. O papel do professor ou familiar é de acolher e encaminhar, não de investigar”, destaca Évila.
Para denúncias, os principais canais são:
Disque 100 – recebe denúncias anônimas de violações de direitos humanos, 24 horas;
Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher, também acionada em emergências envolvendo crianças;
190 – Polícia Militar, para casos de risco imediato.
Exposição “Desenhos que Falam” amplia debate sobre violência doméstica
Até 18 de dezembro, o setor de acolhimento dos Núcleos Cíveis da DPEMT, em Cuiabá, abriga a exposição “Desenhos que Falam: percepções sobre a violência doméstica”, que reúne produções de alunos do 5º ao 9º ano da rede estadual. A iniciativa do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem) nasceu após defensoras públicas visitarem escolas durante as ações do Agosto Lilás, campanha nacional de combate à violência contra a mulher.
As defensoras Rosana Leite e Zanah Figueiredo Carrijo ficaram impactadas pelos desenhos das crianças e adolescentes e decidiram trazer as obras para um espaço público de reflexão.
“Esses desenhos se comunicam conosco. Mostram como a violência de gênero afeta profundamente as crianças e adolescentes. A sociedade precisa refletir mais. A Lei Maria da Penha completou 19 anos, mas o enfrentamento à violência não pode parar”, afirmou Rosana.
A exposição busca provocar debate, estimular empatia e reforçar a importância de combater a violência doméstica dentro e fora da escola — e de estar sempre atento aos sinais silenciosos emitidos por crianças e adolescentes.