Entenda a hipersexualização do corpo negro e saiba como combatê-la


 - Foto: Divulgação
20/11/2023 às 10:11
Metrópoles

Conhecimento

No Dia da Consciência Negra, a Pouca Vergonha traz luz para um tema que ainda gera muita dúvida no que diz respeito aos movimentos raciais: a hipersexualização dos corpos negros. Um dos muitos vieses do racismo, trata-se de um olhar que desumaniza as pessoas negras, as vendo como uma espécie de “entretenimento”, meros objetos de servidão aos desejos.

De acordo com a psicóloga com abordagem afrocentrada Dheneffer Santana, a hiperssexualização é uma herança dos tempos de escravidão, em que mulheres e homens negros, principalmente os que serviam dentro da casa grande, eram usados para saciar os desejos de seus senhores. Nos dias de hoje, muitos estereótipos ainda são reproduzidos sobre pessoas negras.

“Os homens ainda são vistos como muito viris, com uma performance sexual muito forte e até mesmo como homens que sempre têm um pau grande. Com as mulheres existe todo o estereótipo de mulher gostosa, com muitas curvas, sedutora. Um exemplo é o carnaval, que pe o momento em que o corpo negro ganha destaque, sempre com muita sexualidade, e depois que o período acaba ele volta para o local de servidão. As referências de negros que víamos na TV eram mulheres e homens sexualizados”, explica.

Muitas vezes confundido com o simples “sentir atração” por uma pessoa negra, o processo de hipersexualização tem a ver com não enxergar a pessoa para além do viés de satisfação de desejo. “A atração traz também o afeto, o lugar de abrir caminhos para se aprofundar no outro, já a hipersexualização não. Você não enxerga ou mesmo se interessa por essa pessoa para além do viés de servidão”, afirma Dheneffer.

Essa hipersexualização tem consequências nocivas para as pessoas negras, que de tão reduzidas a apenas um corpo pela sociedade, chegam a não conseguir se perceber enquanto seres humanos com profundidade, questões e com um lugar no mundo que não diz respeito a satisfazer os desejos de outra pessoa.

“Pessoas negras constantemente se vêem nesse lugar e sentem dificuldade em dizer não, impor limites, acessar suas vulnerabilidades. E uma vez que o racismo também passa pela idealização do que seria uma pessoa negra “bonita”, muitas delas acabam se negando, têm sua autoestima afetada. A autoestima negra ainda é muito fragilizada, e muitas vezes acaba sendo moldada nesse lugar de despertar desejo. Logo, as pessoas se colocam nesse lugar de obter aprovação e têm dificuldade em perceber suas próprias vontades e ambições”, elucida.

No que diz respeito a se “blindar” da hipersexualização, a psicóloga, infelizmente, afirma: não há como se blindar. Em uma sociedade racista, em que o racismo é constantemente reproduzido e ensinado desde que nascemos, a hipersexualização vai atravessar as pessoas negras, e fatalmente interferir de alguma forma em suas vidas. O que se pode fazer é se cuidar para aprender a lidar com a situação.

“Desde a mulher negra que achou que alguém tinha interesse por ela, mas só queria sexo, até o homem que não assume uma mulher negra, são várias as narrativas que vemos todos os dias. É difícil, essas coisas não estão sob nosso controle, não há como agir ou se blindar. A gente só pode se fortalecer nesse processo de autoconhecimento, fazer terapia, separar o que o racismo injetou em nós do que de fato somos nós e entender que o racismo não nos determina”, indica.

Para os brancos que querem deixar de reproduzir a hipersexualização, a primeira e mais importante dica que Dheneffer dá é: admita que você é racista. Para além disso, buscar letramento e informação sobre o assunto é obrigatório. Não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista.

“O racismo está dentro da branquitude, pessoas brancas reproduzem a branquitude. Racismo não é só xingar ou agredir uma pessoa negra, também está na forma com a qual você as enxerga. Revise: quais lugares as pessoas negras ocupam em sua vida? Quais símbolos pessoas negras te remetem, quantas pessoas negras ocupam lugares de afeto para você? Trate seu racismo na terapia, se olhe a partir desse lugar, questione. reconhecer é um passo importante para a desconstrução”, finaliza.

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