Municípios alertam para insegurança jurídica após novas homologações de terras indígenas
Redação
AMM
As recentes homologações de terras indígenas em Mato Grosso acenderam um alerta entre os gestores municipais, que temem impactos econômicos, sociais e administrativos com a ampliação das áreas demarcadas. O presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Leonardo Bortolin, afirmou que o decreto assinado nesta terça-feira (18) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode comprometer a sustentabilidade dos municípios afetados e gerar perdas irreversíveis para centenas de famílias.
Bortolin criticou a ausência de diálogo com prefeituras e produtores rurais que serão atingidos pelas novas delimitações. “É um ato de extrema irresponsabilidade. O governo federal busca protagonismo durante a COP 30, mas ignora a realidade de Mato Grosso. Prejudica famílias inteiras, paralisa áreas produtivas e fragiliza a economia nacional, que depende fortemente do agronegócio”, declarou.
Entre as áreas ampliadas está a Terra Indígena Manoki, em Brasnorte (588 km de Cuiabá), que recebeu um acréscimo de 206 mil hectares. Segundo o presidente da AMM, a região incorporada engloba propriedades estabelecidas há mais de três décadas. “Existem matrículas com 35 anos de regularidade. Nesse perímetro ampliado não há histórico de presença indígena, nem antes e nem depois da Constituição de 1988. Agora esses 206 mil hectares foram somados a uma área original de 46 mil hectares destinada a cerca de 450 indígenas”, explicou.
Para Bortolin, a decisão do governo federal agrava o ambiente de insegurança jurídica que tem dificultado o desenvolvimento dos municípios. Ele relembrou que o estado já enfrenta uma série de restrições, como a moratória da soja, debates sobre áreas úmidas, questionamentos do zoneamento ecológico-econômico e outras limitações ambientais. “Mato Grosso vive sob constante ameaça de decisões unilaterais. Como atrair investidores se a cada ano surgem novas inseguranças jurídicas impostas de cima para baixo? Isso trava o desenvolvimento e cria incertezas para quem produz e gera emprego”, criticou.
O presidente da AMM afirmou ainda que buscará apoio jurídico para tentar suspender os efeitos do decreto. “Vamos acionar o ministro Gilmar Mendes, do STF, para que analise e suspenda essa homologação. Os municípios precisam ser ouvidos e respeitados”, concluiu.