O que significa a ruptura entre Cid Gomes e PT após 28 anos de aliança
Redação
Política
O senador Cid Gomes (PSB-CE) rompeu com o governo de Elmano de Freitas (PT) no Ceará e desintegrou uma aliança política que nasceu em 1996, com primeira eleição do próprio para a prefeitura de Sobral, e resistiu até mesmo a uma briga familiar entre o parlamentar e seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).
No centro da ruptura, está o acúmulo de poder local almejado pelo petismo após a eleição de Evandro Leitão (PT) para a prefeitura de Fortaleza, em outubro, a única do partido em uma capital. Neste texto, o site IstoÉ recapitula a relação entre Cid e o PT e os descaminhos dessas duas forças políticas no Ceará.
Parceria resistente
Cid se aliou ao PT pela primeira vez em 1996, quando estava no PSDB e recebeu apoio da legenda para a prefeitura de Sobral, em eleição que situou a cidade como a base de poder dos Ferreira Gomes. Salvo por entreveros naturais, o senador e o partido se mantiveram próximos em seu período como governador, de 2007 a 2014, na breve passagem pelo Ministério da Educação, sob a gestão de Dilma Rousseff (PT), e desde que ele chegou ao Senado.
Em 2022, Cid viu a parceria ser ameaçada por uma ruptura entre o PT e Ciro, seu irmão e aliado histórico, que capitaneou o grupo que incluía ambos a lançar a candidatura do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) para o governo do Ceará, em oposição a Elmano de Freitas, que acabou eleito em primeiro turno. Defensor da manutenção da harmonia estadual com o partido de Lula, o parlamentar tomou o caminho contrário dos aliados após o pleito e encaminhou sua saída do PDT, sendo chamado publicamente de “traidor” pelo irmão.
A enrascada familiar, contudo, manteve Cid próximo de Camilo Santana (PT), ministro da Educação e ex-governador do Ceará — espécie de “cria política” dos Ferreira Gomes, ele se tornou o principal líder petista local –, e preservou sua relação com o governo federal. Ele embarcou no PSB, para onde levou ao menos uma dezena de deputados federais e estaduais que estão em processo de desfiliação do PDT. Em troca, ganhou espaços de poder no governo Elmano, indicando nomes para a secretaria de Recursos Hídricos e outras autarquias estaduais.
A cisão
Na primeira eleição distante do irmão, Cid liderou o PSB para a conquista do maior número de prefeitos do Ceará (65) e apoiou Evandro na vitória apertada obtida em Fortaleza. Apesar disso, o baixo engajamento na campanha petista na capital e a ausência de municípios expressivos entre suas conquistas — o grupo perdeu Sobral depois de 28 anos — reduziram o peso político do senador nas contas de distribuição de poder no estado. Para Monalisa Torres, professora de teoria política da UECE (Universidade Estadual do Ceará), o senador está “cada vez mais distante” da máquina pública cearense.
Esse entendimento parece ter sido seguido pelo PT ao escolher o deputado Fernando Santana (PT) como candidato governista à presidência da Alece (Assembleia Legislativa do Ceará), que será disputada no início de 2025, sem consultar Cid. O posto era justamente de Evandro Leitão, um ex-pedetista que ingressou na legenda neste ano, e o entendimento do senador era de que a discussão da sucessão deveria incluir outras forças.
Eudoro Santana, presidente estadual do PSB, disse ao jornal O Povo que a bancada da sigla não foi consultada sobre a escolha. “Mesmo tendo presidente, senador, governador e prefeito (de Fortaleza) do PT, isso é resultado de uma grande aliança. Deve ser um processo discutido com o conjunto de partidos que fazem parte da aliança, não pode ser uma decisão de um partido só”, afirmou o pessebista. Procurado pelo site IstoÉ por meio de sua assessoria de imprensa, Cid não se manifestou sobre o assunto.
O petismo, por sua vez, ainda aposta na ampliação de poder e na consolidação de Elmano em um reduto que se tornou ainda mais importante após os resultados negativos das disputas municipais, mas onde a oposição à direita tem demonstrado força. “O principal aliado de Cid é Camilo, que, embora tenha se consolidado como uma liderança estadual, hoje é ministro. Por sua vez, Elmano trabalha para autonomizar o próprio mandato e se tornar menos dependente da base do ex-governador“, disse Torres.
Fonte: IstoÉ