Por que o bitcoin bateu recorde após vitória de Trump e o que esperar
Redação
Entenda
O impacto da vitória do candidato republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos sobre o mercado financeiro foi sentido com especial força nos criptoativos. O bitcoin ultrapassou pela primeira vez os US$ 75 mil, e outras moedas digitais também registraram valorizações expressivas nas primeiras horas após o anúncio de quem foi o eleito.
Especialistas consultados pelo site IstoÉ Dinheiro explicam que a alta das criptos está relacionada à expectativa de que Trump pare um processo fortalecido no governo Biden de regulamentação este mercado.
Entusiasta do segmento, o head de Ativos Digitais da Empiricus Research, Valter Rabelo, chama o resultado das eleições dos Estados Unidos de “uma vitória monumental para o cripto”, devido também a composição de uma maioria republicana no Congresso do país. “É o cenário perfeito que poderíamos querer para esse final de ano.”
Até onde vai a alta?
O bitcoin não sustentou a alta e logo passou a operar em queda. O diretor de comunicação e especialista cripto do Bitybank, Israel Buzaym, explica que muitos investidores aproveitam os momentos de pico do ativo para vender e realizar lucros, inclusive gestores de fundos.
“No longo prazo, o bitcoin deve continuar sua tendência de alta, sustentada por suas características de escassez e adoção crescente,” explica Buzaym. “A adoção institucional crescente e a melhoria do ambiente regulatório nos EUA posicionam os criptoativos para um 2025 muito positivo”, reforça o CIO da Hashdex, Samir Kerbage.
A quebra da marca dos US$ 100 mil, no entanto, ainda pode demorar. “Acredito que o volume precisaria ser muito maior do que o atual, e, por isso, mantenho um certo ceticismo em relação a esse patamar ainda em 2024”, diz Buzaym.
Os acenos de Trump aos criptoativos
Donald Trump não teve sempre uma boa relação com os investidores de cripto. Em 2021, durante sua campanha presidencial anterior, o magnata chamou os ativos digitais de “golpe” e de “desastre esperando para acontecer” por “amenizarem a importância e o impacto do dólar”.
Em 2024 sua posição mudou. “Ele percebeu essa brecha, ele é um marqueteiro político”, diz Buzaym. Em junho, horas após se reunir com mineradores de bitcoin, Trump foi a uma rede social e anunciou seu apoio aos criptoativos.
Em outubro, dois dos filhos de Trump, Don Jr. e Eric, chegaram a lançar sua própria plataforma de criptoativos, a World Liberty Financial, com sua criptomoeda, denominada “WLFI”.
Perdão a Ross Ulbricht
Entre as promessas que Trump passou a encabeçar está o perdão presidencial para Ross William Ulbricht, criador do Silk Road, um marketplace que possibilitava o pagamento de vendas com bitcoin. Ulbricht, no entanto, acabou condenado a duas prisões perpétuas quando foi descoberto o enorme fluxo de artigos ilegais na plataforma, como drogas, pornografia infantil e armas.
“A comunidade bitcoin é muito fã dele no sentido de que ele foi um dos primeiros caras que colocaram um e-commerce em bitcoin em funcionamento no mundo”, lembra Buzaym.
Demissão de Gary Gensler
Outra promessa de Trump foi a demissão de Gary Gensler, presidente da SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. “Ele foi aí um verdadeiro carrasco de cripto durante todo esse tempo”, lembra Rabelo. “Gensler fez várias intimações contra vários projetos e corretoras de cripto ao longo desses últimos meses.”
Advogada do escritório Benício Advogados, Marcela Zanetti atribui o grande número de processos a uma pressão do governo Biden. “Principalmente após o colapso da FTX em novembro de 2022, que representou o maior choque ocorrido no mercado de criptomoedas até então, o governo Biden iniciou maior controle sobre o setor”, diz.
A demissão do presidente da SEC não é atribuição do presidente do país. No entanto, alguns analistas apostam que ele mesmo possa se demitir com a vitória de Trump.
Regulamentação
Trump pretende derrubar regras vigentes, como a SAB-121, que impede que bancos atuem como custodiantes de cripto. “No momento, só se consegue fazer custódia nos Estados Unidos por meio de corretoras. Os ETFs de bitcoin, por exemplo, a custódia é feita com a Coinbase”, explica Rabelo.
Outro ponto na mira do republicano seria a aprovação de uma lei anti-moeda digital de banco central (anti-CBDC na sigla em inglês). Na visão de Buzaym, ativos do tipo “dariam o controle absoluto ao Estado sobre o dinheiro das pessoas”.
Que regulamentação é necessária?
Os especialistas mencionam que alguma regulamentação é necessária para os criptoativos.
“É possível utilizar as criptomoedas para movimentações de recursos sem se sujeitar aos meios oficiais para fiscalização monetária, o que dificulta um maior controle governamental sobre esses ativos e facilita seu uso para fins ilícitos”, explica Marcela Zanetti, do Benício Advogados.
“[Criptoativos] Precisam hoje de uma regulamentação que ateste e assegure o uso legal dela em seu país, como meio de pagamentos e meios de aplicações financeiras para investimentos”, defende o Community Manager da ICP HUB Brasil, Fernando Debussy. “Quanto mais evoluir este aspecto, mais fácil será a adoção dos ativos na sociedade.”
Como exemplo para os EUA, diferentes especialistas citam justamente as regras adotadas pelo Brasil. “Os modelos desenvolvidos pelo Banco Central do Brasil deixam nossos pares internacionais a ver navios”, avalia o sócio do escritório DAS Advogados, Danilo Aragão Santos.
Segundo Santos, o Banco Central construiu, por meio de consultas públicas com o mercado, “um trabalho excepcional no entendimento da tecnologia e do tratamento de cada tipo de ativo”.
A advogada Zanetti também elogia a regulamentação brasileira e afirma que as criptos necessitam de regras para dificultar usos ilícitos, sem frear a inovação. “O regramento do setor não pode resultar em um retrocesso ao que o mercado já alcançou.”
Fonte: Ofuxico